16/05/2011

COMO É MESMO O NOME?

Uma queria explicar. A outra queria entender. E as duas queriam lembrar.
Ela comentou - nunca choveu nesse período aqui. Agora é só chuva. Nem está frio. Mas a chuva está desobediente. Nada de boletim meteorológico. E a vida parece que fica grudada no solo. Quando chove – tudo está sempre parado. O asfalto parece segurar os carros. Os trilhos parecem agarrar o metro. Só as pessoas caminhando fogem à regra. Correm e correm entre calçadas e semáforos. Esbarram-se. Cruzam. Desviam. Rápidas. Movimento acelerado. Interessante.
A outra continuou. Amanhece com chuva. Anoitece com chuva. No intervalo mais chuva. Até riu deste comentário carregado de redundância. Na hora quis até comentar sobre este efeito Linguístico. Mas a palavra faltou. Deixou para lá. E conjeturou. Quem sabe quando o frio vier – melhora. Antes frio do que chuva. Bom. Chega de falar em chuva. Melhor descermos logo. Deve estar cheio a esta hora.
Desceram para o almoço. Atrasadas e ligeiras. O tempo voa quando não queremos. Quando a gente tem pressa – ele fica sossegado. Mas enfim. Não dá só para fazer críticas. Tempo é tempo. Chuva é chuva. Melhor uma adaptação. Eis dois casos em que a reclamação fica improcedente.
Ela foi descendo e falando. Preciso comprar uma bota. Duas. Vou comprar uma marrom e uma preta. Quero de cano alto. Com esta chuva não tem conforto melhor. E fica-se muito elegante.
Foi exatamente neste comentário que tudo começou.
Ela respondeu rápida - comprei uma muito bonita. Preta. Verniz. Linda. Cano alto. Sim. Foi naquela loja. Aquela. Até lhe dei uma blusinha de presente. Sim. Em seu aniversário. Tem naquele shopping. E naquele outro também. A tal loja. Não consigo lembrar o nome da loja. Nem daquele outro shopping. Fica perto da casa dela. Parece que estou vendo. A loja. O shopping. E a bota. Só tem lá. Não sei como o nome me fugiu da memória. E que fuga. Nem uma letra parece vir para ajudar.
Ela respondeu com calma - aparente. Rindo. Eu sei qual é. Sim. Você me deu a blusa. Ficou pequena. Tive que trocar. Fui naquele shopping novo. Foi inaugurada uma filial também lá. No shopping novo. Já disse. Sim. Também não lembro o nome. Fui no domingo - até encontrei com aquela sua amiga morena. A que trabalha naquela Clínica. A morena. De cabelos longos. Não lembro o nome dela. Mas você sabe quem é. Ela até emagreceu muito nos últimos meses. Você até falou sobre isso - que tinha sido uma dieta rigorosa. Não lembra. Tem que lembrar. Você também trabalhou com ela. Ela estava lá comprando umas saias. Até conversamos um pouco. Ela perguntou por você. Mandou beijos. Pediu para você ligar para ela. Esqueci de lhe falar. Sim. Só rindo. Não lembro o nome. Da loja também. E não lembro o nome do shopping.
Bom. Vamos logo almoçar. Hoje a agenda está cheia. Não dá para ficar de vassoura na memória. A poeira que fique lá.
Riram. Um riso contido. Continha uma vontade - a de lembrar logo os nomes. Do raio da loja. E o nome daquela magrela. Sim. A paciência parecia ter ido embora junto com os nomes. Ele - se soubesse - ia logo fazer gracinhas. Ia dizer que ia tatuar em meu braço. Os nomes. Sim. Muito engraçadinho. Deixa encontrar com ele. Sim.
Bom. Mas vou torcer para lembrar. Do nome dele. Do motivo da reclamação. E até das gracinhas dele. No dia que o encontrar.
Agora quase engasguei. Tem razão. Só rindo.
Acredite - vem tudo no consciente. Até palavrão. Palavrinha. Só não vem os nomes certos. E isso não é o pior. Queria tanto saber se é a Loja que estou pensando.
Bom. Diga então o nome da que você está pensando. Quem sabe é esta. Ou tem uma sonoridade parecida. E acabaremos por lembrar o nome correto.
Olharam uma para outra. Talheres nas mãos. Bandejas diante delas. Crachás em cima da mesa - ainda bem. Colegas e amigos passando. Olhando. Cumprimentando. Saindo. Chegando.
Ela começou a rir. Ela deu sequência. Riram. Riam. Muito.
Ela não podia dizer o nome da que estava pensando. Para ver se era o nome que a outra estava pensando. Simples. Muito simples. Não lembrava o nome.
Chegaram enfim a um acordo. O verão não demora. Melhor pensarmos em sandálias. Deixa as botas de lado. Me fala qual loja você comprou aquelas sandálias tão lindas -no verão passado.
A resposta veio imediata. Tal Loja. Em tal shopping tem. Naquele outro shopping também.
Era a loja das botas. Eram os shoppings. Nem conseguiram terminar o almoço. Rindo – subiram as escadas de volta.
Viva o verão. Com botas. Sentiram-se salvas. Desta vez.

Leda Rezende

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