SÓ MARIANA NÃO VIU

Segue um dos textos premiados na Jornada Nacional Sobrames 2011 realizada em São Luis (Maranhão) escrito por Josemar Alvarenga (Sobrames Minas Gerais):


SÓ MARIANA NÃO SABIA, NÃO ESCUTOU NEM VIU!…


Filha sem irmã-companhia. Decidira-se. Contou as tias, em principal; teria muitos filhos. Família unida, ideal!…
Sem menina-companhia; só da escola, eventuais. Velhos em futuro dela; chatos, desinteressantes, tolhiam sua infância. Exigiam silêncio. Falavam alto; brigavam. Cobravam. Até impediram-na atear fogo no rabo-gato da avó!…
Casara-se em pompas. Paraninfos infindos. Presentes incontáveis.
Jogo de jantar; porcelana inglesa. Tia, do Egito o trouxe; florais em azul-turquesa, quarenta peças, pintadas artesanais.
Baixela de prata luxemburguesa; da avó, de ela querer-lhe incinerar cauda-bichano!…
Puro linho egípcio de 2,0 X 6,0 metros à grande mesa; linda toalha ao jogo de jantar, à baixela; ela, marido, filhos e gente em que se espelha!…
Usá-los! Jamais… Limpos sistemáticos, guardados de chaves no pescoço.
Depois dos filhos; sete… oito. Casados. Trinta netos; para que, desgosto?
- Mãe, as relíquias; seu aniversário!
- Não!… Guardo à data; pessoas especiais.
- Mãe, formatura do último neto. As peças?
- Nem pensar!…
Bodas; cinquenta anos.
- Toalha imaculada; aparelho intacto; baixela impecável!… Nunca os usei. À minha data especial!…
Coração a levou.
Missa da Ressureição…
Seleto grupo; toalha de linho-egípcio, rica porcelana, baixela de prata à última ceia; derramaram vinho no pano, quebraram louças, amassaram metais; brigaram ao desengano.
Só Mariana não sabia. Graças a Deus e a sua providência; Ela não escutou nem viu…

Josemar Alvarenga