17/09/2017

SONHOS E FUGAS


Sim, lembro-me bem. Era uma tarde outonal, de céu límpido e temperatura bem mais amena do que fora a noite. As folhas caídas forravam as ruas nas quais eu flanava, tentando espiar as preocupações que sempre me afligiram.

Já na meia idade não me era permitido mais as ilusões da juventude. Afinal é o momento em que a realidade se impõe sobre os sonhos que, ainda assim, buscamos em nosso íntimo.  Subitamente meus pensamentos são bloqueados pela visão que surge à minha frente. 

Impossível não a observar. Suas longas pernas contrastavam com seu corpo. Mantinha a cabeça ereta, tal como fazem os determinados. Seus grandes olhos pareciam dominar o ambiente e a tudo observa.

Tentei alcançá-la, mas ela rapidamente se afastou.  Estes encontros se repetiram nos dias que se sucederam.  A cada encontro uma nova fuga. Nenhum contato mais próximo ocorreu. Até que por fim não mais a vi. Com certeza encontrou um lugar seguro onde não mais era necessário fugir de ninguém.

A busca quase frenética em revê-la fez com que naqueles dias não mais pensasse na juventude, que de resto já não mais existia em mim, ou nos sonhos não realizados.

Como legado ficaram seu canto que escutava quando de mim fugia e a lembrança de seu corpo de cor acastanhada, de sua crista e seu longo bico vermelho, características que nos permite identificar as Seriemas, que nos cerrados encontram o seu lar !!!!

Teria sido a determinação em não se deixar ser invadida a lição que devemos aprender para realizar nossos sonhos?


MARIO SANTORO JUNIOR

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