Sim, lembro-me bem. Era uma tarde
outonal, de céu límpido e temperatura bem mais amena do que fora a noite. As
folhas caídas forravam as ruas nas quais eu flanava, tentando espiar as
preocupações que sempre me afligiram.
Já na meia idade não me era permitido
mais as ilusões da juventude. Afinal é o momento em que a realidade se impõe
sobre os sonhos que, ainda assim, buscamos em nosso íntimo. Subitamente meus pensamentos são bloqueados
pela visão que surge à minha frente.
Impossível não a observar. Suas longas
pernas contrastavam com seu corpo. Mantinha a cabeça ereta, tal como fazem os determinados.
Seus grandes olhos pareciam dominar o ambiente e a tudo observa.
Tentei alcançá-la, mas ela rapidamente
se afastou. Estes encontros se repetiram
nos dias que se sucederam. A cada
encontro uma nova fuga. Nenhum contato mais próximo ocorreu. Até que por fim
não mais a vi. Com certeza encontrou um lugar seguro onde não mais era
necessário fugir de ninguém.
A busca quase frenética em revê-la fez com
que naqueles dias não mais pensasse na juventude, que de resto já não mais
existia em mim, ou nos sonhos não realizados.
Como legado ficaram seu canto que escutava
quando de mim fugia e a lembrança de seu corpo de cor acastanhada, de sua crista
e seu longo bico vermelho, características que nos permite identificar as
Seriemas, que nos cerrados encontram o seu lar !!!!
Teria sido a determinação em não se
deixar ser invadida a lição que devemos aprender para realizar nossos sonhos?
MARIO
SANTORO JUNIOR
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