13/12/2019

DOCE, COM AMOR



Por: Delfim Silva Pires

A história que vou contar provavelmente não é novidade e acredito que muitos de vocês já a conheçam.

E não tem importância o fato de ser uma história já conhecida, sua importância, para mim, decorre da maneira como a conheci.
            
Uma vez, há muito tempo atrás, no tempo em que eu era ainda criança, estávamos todos à mesa: meu pai, minha mãe e os filhos. Éramos seis filhos naquela época.
            
Minha mãe disse-nos: “Vou contar-lhes uma história”.
            
Éramos doidos por histórias, vivíamos pedindo que nos contasse histórias, rogávamos pelas suas histórias. Como éramos muitos filhos e todos pediam histórias, muito frequentemente ela nos contava histórias repetidas, então contávamos o final da história rapidamente, e dizíamos:

 — Tá vendo? Essa história já é velha, história repetida não vale.
            
Então imaginem vocês nossa curiosidade.
            
Imaginem. Nós nem havíamos pedido e ela se ofereceu para contar história, essa devia se mesmo das boas e novinha; não devíamos conhecê-la.
           
Ficamos todos em silêncio, para ouvir sua história. E ela começou assim:
            
“Havia uma família muito pobre e muito unida.
            
Certa vez, a mãe dessa família tendo um único pêssego, deu-o a filha caçula e disse:
            
Coma, só tenho esse, está bem maduro, e vai te fazer bem.
            
A menina guardou-o e, ao avistar o pai, deu-lhe o pêssego dizendo:
            
Pai, você deve estar cansado e eu guardei este pêssego para você.
            
Por sua vez o pai deu o pêssego para o filho, e o filho deu-o à mãe.
            
Então a mãe reuniu toda a família e disse:
           
— Hoje à tarde, dei um pêssego à Maria, ela guardou-o e deu ao pai, o pai deu-o ao Antônio, e o Antônio deu a mim. Portanto esse pêssego alimentou a todos, deu-nos muito amor, nós bem o merecemos. Assim sendo, repartiu entre todos”.
            
Estávamos todos embevecidos com a história e, ao mesmo tempo em que terminava a história, ela tirou uma pequena travessa do fogão, colocou-a sobre a mesa dizendo:
            
— Ganhei hoje este doce da vizinha, sei que ele é bem pouco para todos nós, mas é o que temos e, se vocês se lembrarem da história, perceberão que dá para todos e ainda há de sobrar para o resto de vossas vidas.
            
Passados tantos anos, ainda me lembro da travessa de doce, e ele me fez tão bem, que ainda hoje guardo seu gosto. Não podendo repartir o doce com vocês, reparto a história que tanto me emocionou.

***

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