08/11/2015

CARNAVAL


Sentei no meio fio da rua, apoiei a cabeça nas mãos, cotovelos sobre os joelhos e chorei. Um choro triste de ressaca e infelicidade,
A cabeça rodava ainda sentindo os sons, imagens e os odores. Pessoas pulavam ao redor de forma automática, sem emoção. Fim de festa. Observo a multidão ao longe se dissipando e me pergunto o que me fez participar dessa orgia sem medidas em que se transformaram os dias e noites de carnaval? Bebidas, drogas, sexo..., tudo pode, tudo vale.
Os trios elétricos rasgavam as ruas, enquanto mulheres despidas e homens nem um pouco recatados, com suas latinhas de cerveja dançavam freneticamente nos palcos decorados. Seguidores, bando de pessoas acompanhavam o cortejo de forma desordenada, apalpando, agarrando, atracando... 
Durante a semana que antecedeu o carnaval, por diversas vezes apareceram na televisãocampanhas educativas” informando da importância de não esquecer as camisinhas. Será que nessa loucura toda, alguém se lembrou de prevenir doenças venéreas, gravidez ou Aids? Valeu a pena? Os riscos são tantos...
Os dias de carnaval são uma temporada a parte do resto do ano, quando tudo pode ,quando as pessoas não necessitam pensar, quando afloram os mais primitivos desejos físicos estimulados pelo tato, olfato, audição, gosto e gozo. Durante o resto do ano as fantasias internas ficam contidas dentro de si e então como que em um passe de mágica explodem.
Olho em volta e noto que algumas pessoas não são reais, como eu também não sou neste momento. Caso as encontre algum dia em outras situações, tenho certeza que a postura será completamente diferente da que se encontram agora. Elas e eu provavelmente não faríamos questão alguma em relembrar o que fizemos nestes dias. 
Então porque tanta energia dissipada em produzir tão pouco? Em uma busca frenética pelo não relevante
Não obtenho respostas, por mais que me questione. Sinto-me um filosofo de bar de esquina, ou melhor, um filósofo de sarjeta, que é onde efetivamente me encontro, não no sentido figurado da expressão.
Com cuidado para não cair de novo, me levanto, Em passos trôpegos vou caminhando. Os raios de sol me ofuscam a vista. Tenho pouco tempo para passar no hotel, tomar um banho, fechar a conta, pegar um táxi e voar para o aeroporto.
Largo as minhas máscaras na calçada, junto com as fantasias vividas nestes dias e me preparo para enfrentar a vida.
Feliz ano novo! No Brasil e em especial em São Paulo, todos sabemos, o anocomeça depois do carnaval. Será?

Aída Pullin Dal Sasso Begliomini
Terceiro Lugar no concurso de contos da
VIII Jornada Nacional de Médicos Escritores - Sobrames
Tubarão-SC - 15 a 18.10.2015

Um comentário:

  1. AÍDA
    UM BELO CONTO. SOBRE UMA DAS MAIORES FESTAS DO MUNDO O CARNAVAL BRASILEIRO
    BEM ABORDADO E BEM DESENVOLVIDO.
    PARABÉNS!
    LUIZ JORGE.

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