25/05/2011

QUEM SOU EU?

Quando nasci, em meados do século XIX, ninguém sabia se sobreviveria. Todavia, fui adotado por reis e rainhas, imperadores e outros personagens ilustres e consegui chegar aos dias de hoje. É claro que não sou como antigamente, porém mantenho muitas características básicas.
Fui objeto de muita discussão, fui fichado e tornei-me valioso. Mesmo assim, por vezes sou ignorado e até mutilado. Há quem me trate com delicadeza, como se fosse uma flor. Em outras ocasiões, sou tão desprezado que me sinto envergonhado. Já fui motivo de roubo, de discórdia e até de morte!
Qual é minha cor? Bem, nasci negro, depois fiquei azul. Fico constrangido, porque também sou vermelho. Hoje, ainda mantenho essas cores, mas posso me tornar multicolorido também.
Creio que ainda não dá para saber a minha identidade. Vou descrever um pouco mais a meu respeito. Quem sabe, então, me descubra.
Posso ter diversas formas e posso mesmo ser lambido. No entanto, por favor, não me confunda com sorvete, pois não sou gelado, nem algum doce e, muito menos, pasta de dente! Posso ser bonito, muito bonito. Ou então, feio, muito feio!
Quem gosta de mim é capaz de passar horas em minha companhia. Há quem fique me olhando durante um tempo quando estou exposto e depois passa adiante para observar meus irmãos. Gostam de me comparar com os outros. Quando muitos de nós somos parecidos, perdemos valor.
Mas minha função primordial facilitou muito a vida de quem me cerca.
Ainda está difícil adivinhar quem sou?
Sou o Selo Postal. Fui inventado por Sir Rowland Hill, na Inglaterra, em 1840. Na primeira vez, apareci como o “Penny Black”, seguido pelo “Penny Blue”.
O Brasil me lançou em 1843, com o nome de “Olho-de-Boi”, também na cor preta. Logo, os Correios viram que os carimbos para chancelar os selos não apareciam direito (pois usava-se tinta preta para isto) e eu era usado novamente pelos mais espertinhos, razão pela qual passei a ser colorido.
Com quase 150 anos de vida, tive vários formatos: retangular e quadrado (os mais comuns), triangular, redondo, imitando mapa de países, etc. Posso ter cola nas minhas costas, posso ser autocolante ou não ter cola nenhuma. Já fui até perfumado. Houve ocasião que exalava cheiro de fumaça! Sinto-me honrado de ser colecionado. Choro quando sou rasgado junto com o envelope de uma carta, ou então, jogado no lixo, no meio de tantas porcarias!
Meu recado: Recorte-me dos envelopes, bem longe das minhas bordas para não me machucar, guarde-me até juntar um montão de meus irmãos e depois nos dê para alguma instituição de caridade. No mínimo, serei alvo de interesse para as crianças. Porém, algumas entidades vão me tratar, tirando-me do papel de envelope depois de me banhar em água e me secar, para depois, com os outros, me vender. Assim, posso beneficiar alguns necessitados. Nestas ocasiões, encho-me de orgulho por ser útil outra vez.
Portanto, peço caridosamente que, ao receber uma carta, antes de abri-la, olhe o selo. Olhe para mim! Encha os olhos e aprecie as mensagens e imagens que quero transmitir. Doravante, lembre-se desse pequeno texto para nunca mais me ignorar.

Walter Whitton Harris

2 comentários:

  1. Caro amigo das letras Walter Whitton Harris, não sei se és um médico ou pertence a outra categoria profissional. Não quero aqui cometer a sandice do dia em visitei a Sobrames pela primeira e acreditava que todos seus membros eram somente médicos...o que de fato não é bem assim. Quando comecei a ler "Quem sou eu", fiquei com a mente divagando: quem será? A quem ele está se referindo...etc.? Bem,tive a curiosidade de leitora satisfeita, quando vi que se tratava da história do selo. Aí, pude lembrar quando usávamos carta via correios e muitas vezes, se enchiam de selos coloridos e esperanças por ter notícias de alguém distante amiúde. Grande escolha e feliz na descrição narrativa do hoje em dia, quase peça de museu.
    Parabéns, abraços liter.
    Ivone Cardozo de Souza.

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    Respostas
    1. É, Ivone. Sou filatelista desde os seis anos de idade. Com o passar das décadas, tenho me dedicado mais aos selos do Brasil e do Reino Unido. A história do selo postal é, sem dúvida, apaixonante.
      Abraços sobrâmicos
      Walter
      Ortopedista/Cirurgião do Pé e Tornozelo

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