16/01/2012

O TRILÊNIO E A HEPTABI

Precisamos de novas palavras para designar um mundo tão dinâmico. Já criei expressão trilênio como abreviatura de terceiro milênio. A palavra ainda não pegou, mas ainda tem 989 anos para que aconteça. Agora acaba de nascer a primeira sétima bilionésima pessoa neste planetinha azul. Vamos chamá-la afetuosamente de heptabi.
Bem, e daí? Daí que todos comecemos a rezar e chorar porque as coisas vão ficar esquizofrenicamente conflitantes. O trilênio trará um mundo mágico jamais imaginado, fantástico, absurdamente fora das previsões. Será um milênio fabuloso, onde o real e o virtual não terão limites nítidos, a humanidade alcançará quase o nirvana com as novas tecnologias, descobertas, invenções. Viver será uma ventura sem par; a vida e a saúde serão celebradas com o melhor da biotecnologia. A inteligência se deliciará com a supereletrônica, e quem sabe? até mesmo a biônica. Não estaria vindo aí uma nova biótica, com a criação de novos seres vivos, inclusive os humanos, os neo-humanos, os humanóides, ou os super-humanos? Deus não estaria aqui mesmo na Terra, sentado em laboratórios da Criação?
Pois é, mas o contraposto de Deus, o Diabo, também estará agindo, fazendo suas traquinagens. Esta heptabi que acaba de nascer na Ásia seja ela filipina, coreana, indiana ou chinesa, trás consigo um destino também pouco imaginado. Comecemos pela sua longevidade. O trilênio lhe acena com uma possibilidade de viver tranquilamente acima dos cem, até mesmo cento e cinqüenta anos. Mas o oposto é verdadeiro. Poderá morrer de poluição, acidentes climáticos, doenças bacterianas, virais e até mesmo protéico-elementares, como o príon, aquela proteína da doença da vaca-louca. Poderá morrer desintegrada por uma bomba branca, aquela que não produz calor e não destrói objetos físicos, mas apenas material biológico.
Poderá morrer na luta religiosa entre ocidente e oriente, ou no retorno da humanidade a algum outro fanatismo confessional, como um conflito entre os que crêem e os que não crêem em dada religião. O insulto religioso é de uma violência das mais ferozes. Os fundamentalismos são quase obscenos.
Poderá morrer de um acidente sideral porque meteoritos nos rondam incessantemente, e já houve um episódio parecido, quando os dinossauros desapareceram. Está sendo rastreado um daqueles grandões, que dentro em breve passará muito perto da órbita da Terra.
Mas tem outro aspecto a ressaltar, de ordem física. É principio de lógica que diz: o conteúdo não pode ser maior do que o continente. Até mesmo o conteúdo igual ao continente, em muitos casos, já representa um impossibilidade prática. Na pequenina Terra caberá tanta gente?
Pois é, aí a coisa pega! Se fosse apena caber, fisicamente, seria possível, mas caber no sentido vivencial apresenta muito mais limitantes do que favorecimentos. Tirando-se os oceanos, as calotas polares norte e sul, os desertos, as montanhas, as florestas, as savanas, os maus climas gerais como as monções, as tempestades, os tufões, os ventos, as secas, os incêndios, o inverno, o calor, as insalubridades de microclimas, a esterilização de terras produtivas e a existência de terras sáfaras e pobres, a salinização das águas doces, as zonas de grande adensamento populacional como as ilhas do Japão, as megacidades do mundo, resta o que habitável? Torno a perguntar: resta o que? Nada mais do que uns 5 %. É aí que a humanidade terá que viver, produzir comodities, e continuar prosperando, não só no sentido progressista, mas também no demográfico. Vai dar? Ninguém sabe, mas fácil não será.
Vem ai um novo malthusianismo no qual a humanidade não tem pensado: haverá trabalho remunerado para que todos possam comprar os bens e serviços que o trilênio propiciará? Certamente nada faltará: haverá comida, água, habitação, transporte, saúde, energia para uso pessoal ou familiar, instrução, bem estar e lazer, mas faltarão meios financeiros para adquiri-los. Hoje, apenas hoje, na progressista Espanha, no miolo da Europa, os desempregados já são aproximadamente 25%. De cada 4 espanhóis um não está tendo como sobreviver, dentro de um sistema de trocas. Só poderá fazê-lo num sistema de solidariedade, os 3 que trabalham o sustentarão, através do Estado-Social. E os submundistas, aqueles que vivem fora dos muros do mundo hipercivilizado, seja em geografias, países ou áreas de pobreza, na África ou na periferia de Nova Iorque, viverão de que? Onde conseguir um mísero dólar ou euro para comprar a sobrevivência? O que valerá uma misera rúpia, um peso, um real?
E finalmente vem o fator agravante: o aumento da demanda de bens, cuja produção sempre será limitada ao interesse pecuniário, a tudo encarecerá: comida, água, energia, saúde, espaço vital, deslocamento, seja lá o que for, tudo estará pela hora da morte, para se fazer um oportuno trocadilho e um trágico humor negro. Viver vai ficar caro, difícil, conflitante, até mesmo desesperador.
Oremos por nossos filhos e netos.

Geovah Paulo da Cruz

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