A multidão se aglomerava em torno do palanque. Ninguém sabia muito bem o que estava por ocorrer, mas todos permaneciam pacientes à espera. Havia no ar um desejo de compartilhar em grupo aquele momento, dividir coletivamente as emoções, vibrar com o todo. A plateia já assumia uma personalidade única e as pessoas passavam a ser comandadas pelos sentimentos do grupo que se formava. Todos esperavam que, em algum momento, surgisse a oportunidade de se manifestar conjuntamente, gritar livremente, expressar-se com a segurança do anonimato. São oportunidades únicas de se exprimir sem assumir individualmente nada.
Os movimentos de arrumação do palco indicavam que o
início estava próximo. Alguém sabe quem irá falar? Quem se importa? O que vale
mesmo é a diversão propiciada pelo evento, a oportunidade de passar o tempo em
grupo e se distrair. Com o início da música, as pessoas começaram a pular e a
dançar, embebidas na vibração que se espalhava. O candidato chegou em meio a
gritos de correligionários e palmas de assistentes contratados. O discurso
fluiu com os gritos e aplausos devidamente arranjados. Ninguém prestava atenção
no que se dizia, apenas procuravam reproduzir o esquema, batendo palmas e
gritando junto com a plateia contratada. Ao final, todos cantaram o refrão que
saudava o candidato e receberam os brindes com seu nome e número.
Quem sabe se isso irá render frutos nas urnas? Agora que
o discurso acabou, cada um dos ouvintes retoma sua individualidade e segue seu
caminho. Ninguém sabe o que restou na sua mente. A guerra pela sucessão é
assim, muito carnaval, muitas promessas e pouco compromisso com a realidade.
SHEILA REGINA SARRA
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