28/03/2011

DEVANEIOS EM VERMELHO

Ela olhou para o relógio pela centésima vez. Saíra do banho e enrolada no seu roupão, olhou mais uma vez para a sala para ver se tudo estava arrumado.
Na mesa da sala um arranjo com flores e duas velas vermelhas que logo seriam acesas. Enquanto escolhia dois cálices de cristal lapidados, pensava que licor deveria servir. De chocolate ou o Cherry. Pensou e decidiu pelo último Era ligeiramente ácido, de um tom vermelho muito lindo combinaria com as velas. Porém, talvez fosse mais moderno um vinho tinto que estava guardado para uma ocasião especial. Não ... Estava tão indecisa! Deixaria para mais tarde a escolha.
Indecisa também olhou para o guarda roupa. Não sabia qual vestido colocar. Vestiria o pretinho básico, ou talvez o verde .... “Não... Pensando melhor o vermelho era mais bonito e contrastava com sua pele clara. O vermelho é uma cor quente, dizem que representa a paixão e ela pensou que poderia apaixonar-se novamente.
Mas não deveria criar expectativas. Talvez ele não viesse. Como seria sua vida? E que compromissos teria?”
Enquanto se arrumava, recordou a sua juventude quando, por volta dos catorze anos, conheceu um rapaz que estava há pouco tempo no Brasil e viera estudar no mesmo colégio. Ele despertava muita curiosidade em todos os alunos. Era italiano mas falava inglês muito bem. O pai viera trabalhar em uma multinacional e a família estava morando no Brasil há pouco tempo.
Alto, cabelos muito pretos e dentes, que por serem muito brancos destacavam –se no rosto moreno. As garotas pareciam extasiadas diante do que parecia ser uma raridade. Por alguns anos foram colegas num convívio
de muita amizade e que até parecia terminar em romance. Ela o ajudara muitas vezes nas dificuldades com a língua.
Mas o destino separou-os quando cada um foi estudar em diferentes faculdades. Assim o convívio que tinha sido muito constante foi aos poucos se distanciando. Perderam todo o contato.
Enquanto retocava os lábios com batom vermelho, pensou como a sua vida tivera um desenrolar muito diferente do que imaginara. Casara-se com um colega da faculdade, que trabalhando num banco foi transferido e foram morar num país da América Central. O casamento durou pouco. Certo dia, ao chegar em casa, pasmada encontrou um envelope com dinheiro para sua passagem de volta e um bilhete lacônico onde ele pedia desculpas,
mas que não poderiam continuar juntos. Ele transferido para outro país, decidira que a separação seria melhor para ambos Após a surpresa e o desgosto viu que tinha que organizar sua vida novamente. Se tudo fora tão efêmero o melhor era recomeçar. Assim sonhos desfeitos e malas feitas, voltou para perto de sua família.
Era preciso encontrar um novo caminho e ser feliz novamente.
Começou tentando encontrar um emprego, quando certo dia leu numa revista de negócios uma reportagem daquele que, no passado, ainda muito jovem, parecia vê-la com olhar diferente de todos. Será que ela não quisera entender ou ele fora tímido para se declarar? Seria possível revê-lo? Pensou e não resistindo procurou de todas as
maneiras descobrir como contatá-lo. Ao telefonar sentiu bater seu coração mais forte. Ele simpático, foi logo dizendo que queria vê-la, saber o que fazia, onde morava.
- Sim podemos nos encontrar. E o convite foi feito e data marcada para encontrá-la.
O dia chegou e agora pronta, maquiada, sentindo-se qual adolescente sonhadora, olhou mais uma vez para a sala. Estava emocionada e ao mesmo tempo tinha medo de que ele já não tivesse aquele mesmo interesse demonstrado quando colegas. Afinal ela já não era aquela adolescente que ele tanto olhara e buscara a sua companhia com o interesse maior de um jovem, mas que não conseguira ou não quisera demonstrar.
Tudo estava lindo e preparado para um futuro de surpresas ou talvez um novo romance. Havia avisado o porteiro da chegada de sua visita. Assim ao ouvir a campainha correu para abrir a porta.
Era ele mesmo. Aquele que um dia demonstrara tanto interesse por ela e que ela talvez não tivesse percebido.
Sentiu o rubor de suas faces e o coração bater desordenadamente. Parecia mais alto, elegante num terno escuro.
Os cabelos um pouco grisalhos nas têmporas. Aqueles mesmos olhos negros e profundos, aquele mesmo sorriso tão simpático! E nas mãos... um buquê de rosas vermelhas.

Maria do Céu Coutinho Louzã

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