Quando os primatas elevaram seu trem posterior, para melhor visualizar o horizonte e poder fugir de seus perseguidores ou, ao contrário, alcançar suas presas, modificações importantes e fundamentais para acelerar a marcha e diminuir a fadiga foram introduzidas nos pés: 1 - o talus livrou-se de suas inserções musculares e tornou-se o centro da articulação peritalar; 2 - o calcâneo hipertrofiou-se; 3 - o primeiro raio metatarsiano tornou-se praticamente paralelo aos demais raios e hipertrofiou-se também; a articulação cúneo-metatarsiana tornou-se, praticamente, plana, com seus movimentos limitados; 4 - finalmente, surgiu o arco longitudinal.
Tudo ocorreu progressivamente há cerca de quinze milhões de anos, até chegarmos ao pé atual do homem que, de órgão de preensão semelhante à mão, se transformou em membro de sustentação, embora guardando resquícios de suas funções primitivas.
Surgiu, a partir desse momento, nova capacidade - a antítese, que dá ao pé a possibilidade de, na fase de apoio de marcha, se tornar flácido e, logo em seguida, na fase de desprendimento do solo, absolutamente rígido. É o que se vê, quando no balé clássico, a bailarina executa o "fouetté", ou seja, a rotação rápida e contínua na ponta ou meia-ponta da perna de apoio, graças ao impulso dado pelos movimentos dos braços e da outra perna. Os "fouettés" são executados em séries de 16 ou 32. Isto é o que ocorre na dança, normalmente no balé, quando a bailarina, através do aprendizado longo e exaustivo, consegue prodígios com seus pés.
Mas, evidentemente, há um tributo a ser pago, pois a dançarina exige o máximo esforço de seus pés, como também do sistema músculo-esquelético locomotor, com a participação de todo o aparelho estático e dinâmico do seu corpo. Este tributo é representado pelos distúrbios de forma e função dos pés que nos membros inferiores podem atingir índices elevados, próximos de cem por cento, com a produção de calosidades, bolhas, quadros dolorosos ascendentes até os quadris, pés planos insuficientes, sendo o balé clássico o estilo de dança responsável pela maioria das lesões que, de um modo geral, crescem com a idade e o uso das sapatilhas de ponta.
Por outro lado, se as bailarinas conseguem prodígios com os pés, não nos esqueçamos que, por sua estrutura e função, pela qualidade de máquina perfeita que encerra a excepcional característica da antítese, são os pés que permitem que isso possa ocorrer no ser humano.
Wood-Jones, estudioso dos pés, em seu livro publicado em 1945, afirmava que de todos os segmentos do corpo humano, o que mais evoluiu foi o pé, e o Homem goste ou não, ele é sua chancela e será através do mesmo que será conhecido pelos demais seres do reino animal.
Certamente, o A. não poderia imaginar que em 1969, ou seja, menos de cinco lustros após, entre estarrecido e incrédulo, o mundo viu o Homem pisar na Lua e seu comandante, Neil Armstrong proferir a frase - um pequeno passo para o Homem, um salto gigantesco para a humanidade.
Cabe lembrar que o homem desceu na Lua, apoiando-se nos pés, e lá não há atmosfera, inexistem ventos e tempestades, assim sendo, a imagem no solo lunar jamais desaparecerá! O pé do Homem está eternizado no espaço sideral, fora do planeta Terra!
Manlio Mario Marco Napoli
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