20/10/2014

DIA DO MÉDICO

O “dia do médico” é comemorado no Brasil, assim como em Portugal, França, Espanha, Itália, Bélgica, Polônia, Inglaterra, Argentina, Canadá e Estados Unidos da América, em 18 de outubro, dia em que se celebra na tradição cristã São Lucas.

Lucas, o santo venerado há séculos pelos cristãos, era tido como um sírio de Antioquia, hoje Turquia, e foi contemporâneo do Mestre da Galileia, embora não o tenha conhecido fisicamente. Estudou medicina em Alexandria e exerceu seu ofício em Roma, com nobilíssima projeção, especificamente no palácio do imperador Tibério. Anos depois, deixou o requinte da corte e atuou junto aos mais carentes, com carinho e amor.

Lucas conhecia a crença monoteísta professada pelos judeus, assim como as mensagens humanísticas e libertadoras – por vezes atrevidas e revolucionárias –, além das proezas miraculosas e ressuscitações realizadas por Jesus Cristo, um judeu de origem muito humilde, que afirmava ser o Filho de Deus.

Embora não desse crédito às histórias que ouvia, soube que o Nazareno fora morto pelos romanos por crucifixão. Dado o seu espírito perquiridor, condizente com sua formação científica e cultural, resolveu desvendar os mistérios que envolviam esse excepcional taumaturgo. Assim, partiu para os locais em que Jesus andara, no intuito de que contatos com aqueles que tinham convivido com Ele pudessem-lhe aclarar os fatos. Esteve particularmente na afamada cidade de Jerusalém, onde Jesus morreu e, em sua cidade natal, a modesta Nazaré, de quem oito séculos antes o profeta Miqueias vaticinava: Tu, Belém-Éfrata, tão pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel.” (Mq 5,1).    

O convívio com os seguidores de Jesus, particularmente os apóstolos e discípulos, e, com seus familiares, sobremodo com sua mãe, Maria, facultaram-lhe acreditar naquilo em que a priori era cético, rendendo-se aos poucos ao cristianismo. Devido à sua destacada educação e ao seu comprometimento com a veracidade histórica, passou a redigir detalhadamente os relatos que escutava e apurava, particularmente sobre o nascimento, a infância, a vida e morte do Redentor, além de dados exclusivos da vida de Maria.

Assim, Lucas é o único evangelista a falar da anunciação, da visita a Santa Isabel com o excelso cântico do Magnificat; do nascimento de Jesus em Belém, da adoração dos pastores, da circuncisão, da apresentação no templo e purificação de Maria Santíssima, e da perda e encontro do menino Jesus entre os doutores da lei. Seu Evangelho foi chamado por alguns de “O Evangelho de Maria Santíssima”.

Convertido, Lucas tornou-se evangelizador, divulgando ardentemente os preceitos do Galileu. São Paulo consigna em sua Epístola aos Colossenses as atividades dele ao seu lado, referindo na conclusão dessa carta: “Saúda-vos Lucas, o caríssimo médico, e Demas.” (Col 4, 14).

Lucas não se casou e não teve descendentes biológicos. Teve, sim, uma miríade de filhos espirituais nutridos, dessedentados e embevecidos, ao longo dos séculos, pelos seus escritos. Além de ter sido notório na ars curandi, também se destacou como pintor.

Embora alguns afirmem que ele sofreu o martírio, a opinião mais aceita é a de que tenha falecido de morte natural aos 84 anos, longevo para a época, na Bitínia, região da atual Turquia. Em 1177 seus restos mortais foram transladados para Pádua, Itália, e se encontram na capela de Santa Justina.

Segundo a tradição cristã, além do terceiro Evangelho escrito em grego escorreito, rico pela diversidade de vocábulos, é atribuído também a Lucas o livro dos Atos dos Apóstolos, ambos, considerados dentro do Novo Testamento como os de maior valor literário.

Infelizmente, pouquíssimos médicos sabem que o Dia do Médico, no Brasil, foi uma conquista árdua graças ao empenho impávido, a inflexível tenacidade e a liderança de Eurico Branco Ribeiro. E quem foi ele?

Eurico Branco Ribeiro (1902-1978) foi um paranaense de Guarapuava que veio a São Paulo para estudar, onde se graduou médico e se radicou. Habilidosíssimo cirurgião ambidestro era dotado de uma alma caridosa; esmerado empreendedor, escritor, notório rotariano, líder entre seus pares, tornou-se fundador e, post-mortem, patrono da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Sobrames.  Era devoto e grande estudioso de São Lucas, constituindo-se num de seus grandes conhecedores e divulgadores. Nas diversas cidades onde participava de congressos médicos internacionais, tampouco deixava de frequentar museus e bibliotecas, a fim de reunir novas informações sobre a vida e a obra desse destacado evangelista. Aliás, dos 28 livros não científicos que escreveu, cinco se referem a temas religiosos e quatro, a esse santo, compreendendo um deles quatro volumes. Consignou seu grande conhecimento nesse particular nas seguintes obras: 1.O Livro que Lucas não Escreveu (1969); 2. O Homem que Marcou o Dia de Natal (1972), 3. Médico, Pintor e Santo: volume I – Argumentos Para Uma Tese (1970); volume II – Antes e Depois do Dia Fatal (1969); volume III – De Autor a Personagem (1971) e volume IV – Simbologia e Evocação (1974); 4. Lucas, o Médico Escravo (1974) e 5. Fui um dos Setenta. Novela dos Tempos Bíblicos (1977).    

Na obra Médico, Pintor e Santo, Eurico Branco Ribeiro refere que, já em 1463, a Universidade de Pádua iniciava o ano letivo em 18 de outubro, em homenagem a São Lucas, proclamado patrono do "Colégio dos Filósofos e dos Médicos".

João Paulo II (1920-2005) disse certa feita que “o homem de hoje acredita mais nas testemunhas do que nos mestres; e se acredita nos mestres, é porque também são testemunhas. Lucas, há dois milênios, destacou-se como médico, pintor, historiador, evangelista e santo, além de escritor, demonstrando, nesse particular, que os médicos escritores têm vocação ancestral e abençoada, advinda de uma herança que remonta os tempos imemoriais de Asclépio, o deus da medicina na mitologia grega.
  
HELIO BEGLIOMINI

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