18/04/2011

60 ANOS DE BONDE

Dos meios de transporte utilizados pela população pinheirense, nenhum deixou marcas tão indeléveis como os bondes. Integrados à paisagem urbana desde o começo do século XX, esses veículos serviram a região durante 60 anos, contribuindo para o seu desenvolvimento populacional e facilitando o acesso de seus moradores ao centro
da cidade.
Além da finalidade a que se destinavam, os bondes (e suas paradas como se dizia então) eram utilizados como pontos de encontros e serviam como elementos de aproximação dos membros da pacata comunidade pinheirense de outrora. Seus condutores e cobradores eram figuras populares no bairro e, nos carnavais esses veículos viajavam abarrotados de foliões que com os pedestres trocavam jatos de lança-perfumes e arremessos de confetes e serpentinas.
Os bondes começaram a servir aos pinheirenses em 1904, quando a Light & Power inaugurou a linha Araçá, que tinha seu ponto inicial no largo de São Bento e o final na Avenida Municipal ( atual avenida Dr. Arnaldo).
Serviam de modo insatisfatório, pois para alcançá-los os moradores eram obrigados a percorrer uma grande distância a pé. Posteriormente o ponto final foi mudado para a Rua Capote Valente, onde então terminava a rua Teodoro Sampaio.
Ainda assim era enorme a distancia a percorrer e os moradores do bairro iniciaram um movimento pleiteando a extensão da linha até o Largo de Pinheiros. A reivindicação teve o apoio do vereador Celso Garcia e obteve êxito, apesar das dificuldades existentes. Para que os trilhos chegassem ao Largo de Pinheiros procedeu-se ao
prolongamento da Teodoro Sampaio, através de uma área quase toda de brejos, sendo necessária a execução de três aterros, para os quais foram utilizados os próprios bondes.
Superados os obstáculos, em março de 1909 chegava o primeiro bonde ao Largo de Pinheiros, onde foi recebido com banda de música e foguetes em meio à grande festa popular.
Ao vereador Celso Garcia, que tanto lutou por esse melhoramento, foi oferecido um banquete na residência do Dr. José Guilherme Eiras, um dos lideres da comunidade na época.
O progresso acabou com os bondes. Com o advento da era dos automóveis e principalmente depois da instalação da indústria automobilística nacional, aqueles veículos começaram a ser vistos como obstáculos ao trânsito cada vez mais rápido.
A imprensa e o povo a eles se referiam como “trambolhos”, “mostrengos”, “obsoletos” e outros adjetivos e apoio dos pejorativos. Por fim, na gestão do prefeito Faria Lima, foram extintos de São Paulo.
O último deles que chegou a Pinheiros foi numa noite de 1969, trouxe o próprio prefeito e sua comitiva, para uma singela cerimônia de despedida que se realizou no largo de Pinheiros. Finda a solenidade, melancolicamente o bonde subiu a Teodoro Sampaio pela ultima vez, deixando atrás de si o eco de um passado que não mais voltará.

Flets Nebó

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