Como um caminhante desastrado, ele chega em longas passadas.
Arranca das árvores as folhas desbotadas e secas pelo outono, que se espalham sobre as ruas, canteiros e calçadas. O sol, com preguiça de acordar, só começa a aparecer tarde da manhã, brilha pálido, nega-se a dar mais calor. Os pássaros permanecem escondidos no meio das poucas folhagens que ainda restam da estação passada. Arrepiados, têm preguiça de iniciar a costumeira algazarra matinal. Esperam o sol com a cabeça escondida debaixo da sua plumagem. Pelas ruas e avenidas, as pessoas
encolhidas, agarradas aos seus abrigos e cachecóis, caminham apressadas, com o propósito de chegar logo ao destino e abrigar-se do frio que faz.
Mas o dia passa ligeiro. O astro rei resolve retirar-se mais cedo e esconde-se depressa no horizonte. A noite chega muito rapidamente. Nos lares aquecidos, acendem-se as luzes, há preparativos para a chegada de toda a família. Da cozinha, exala um perfume apetitoso da sopa e do assado no forno, que estão sendo preparados para o jantar.
Nas favelas, é preciso arranjar mais algumas tábuas para fechar as frestas que deixam entrar o vento gelado. Na chama de um velho fogão, o arroz e o feijão, e, às vezes, uma mistura estão sendo cozidos para os moradores que deverão chegar até tarde da noite.
Debaixo dos viadutos, moradores de rua que vagaram pela cidade juntam-se aos garrafeiros, que vão chegando com suas carrocinhas, com que trabalharam durante o dia, recolhendo papel, garrafas e outros materiais recicláveis. Juntos acendem uma fogueira que servira para aquecê-los ou esquentar sobras de comida que conseguiram de algum bar ou restaurante.
Depois, enrolados em velhos e esburacados cobertores e cobrindo-se com caixas de papelão, deitam-se para dormir o sono de uma paz merecida, mas triste. Ao seu lado, alguns cães, seus companheiros fiéis, aninham-se e adormecem, transmitindo-lhes o calor de seu próprio corpo.
No céu azul escuro e sem uma única nuvem, surge a lua muito branca e brilhante, que não teme o inverno que chegou tão de repente.
Maria do Céu Coutinho Louzã
Páginas
- Textos
- Quem somos
- Diretoria
- Estatuto
- Autores
- Livros
- Jornadas
- Prêmio Prosa
- Prêmio Poesia
- Prêmio Desempenho
- Prêmio Assiduidade
- Galeria dos Presidentes
- Antologias
- Coletâneas
- História (para download)
- Hino
- Coleção Letra de Médico
- Associe-se
- Atualização de Cadastro
- O Bandeirante
- Memórias Literárias
- AGENDA 2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradecemos sua atenção. Se possível deixe informações para fazermos contato.