17/06/2011

O VELHO SOU EU

....Poesia inspirada no querido sobramista Flerts Nebó


Quem é esse velho que encontro toda hora
nos vários espelhos que adornam meu lar?
Cada vez que o vejo, eu digo: Vá embora!
Ele some, alheio, mas teima em voltar.

A ruga do rosto anuncia a verdade.
Mas o enrugar da alma é o que mais me aflige.
Revela o desgosto da inútil vaidade,
o perder da calma ao negar o limite.

Memória que falha me prega uma peça.
Sorriso incompleto envergonha a alegria.
Saudade que mata, pra que tanta pressa
se em pleno deserto faltou companhia?

Mil vezes pedi, em todas Deus negou.
Nem digam que o luto foi para o meu bem.
Do amor me desfiz, inconformado estou.
Por que Ele, surdo, não me levou também?

Mas algo persiste, de mim não se afasta,
e apaga o remorso de me deixar a esmo.
A esperança insiste em manter a jornada.
O brilho dos olhos continua o mesmo.

Espírito puro, minha alma é menina,
Acordado, eu sonho, apesar da ferida.
No palco do mundo, a fé é que me ensina:
Por que ser tristonho se inda existe vida?

Portas eu destranco, novas trajetórias.
O neto a nascer há de ter meu carinho.
Páginas em branco aguardam as histórias
que hei de escrever até o último caminho.

Que ele seja terno (nada é impossível)
tal qual o acalanto do beijo primeiro.
Que se faça eterno, abençoe o invisível,
e reacenda o encanto do amor verdadeiro.

Márcia Etelli Coelho

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