18/11/2011

PERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOS

Leio: que percevejos voltaram com todo vigor em Nova Iorque; que hoteleiros empregam cães farejadores para identificar locais infestados...
Ora! nova-iorquinos ainda estão por descobrir a mim, fonte individual para pesquisa [incomparável armadilha humana], pois que já atraí os chupa-sangues em momentos polares da profissão que escolhi, ao início e ao fim do curso médico!
1942, aos 16 anos, desatraquei do porto santista, acenei adeus ao colégio marista para matricular-me no pré-médico da Capital. Primeiro contato com São Paulo! Cerca de 800 mil habitantes! Imensa! para um recém-chegado do Macuco. Desembarquei na Estação da Luz, dinheirinho contado, mil réis, dois mil réis, cinco... Não ousei procurar hospedagem à distância da referência ferroviária, pra não me perder. Diante da Estação, casarões centenários com anúncio de “VAGAS” [em Santos, oceânicas; na Paulicéia, ondas, as do colchão de capim]. Pernoite  barato com direito a baratas , mas surpresa! Não individual! Às horas da madrugada  acesa a luz , o desconhecido se alojava na camilha ao lado! Porém, estranho mesmo  espetáculo hitchcockiano , insetos despertados pela luminosidade, batendo em retirada por lençóis e paredes! Maciça a infestação. De percevejos! À manhã seguinte efeitos... Caroços vermelhos, duros, coceira pra lá da conta! Carimbado, grosseira e extensamente, pelos tatuadores sanguinários.
”Primeira Lição Prática da Parasitologia Médica - Ao Vivo”. Na própria pele! Nenhum livro de medicina a registra.
Virando a página, segunda lição. Sexto e último ano do Curso Médico, canudo ao alcance da mão! Comemoração em Buenos Aires! Economias amealhadas, 9 de julho de 1950, quadrimotor Cruzeiro do Sul ronca 4 horas, deposita os doutorandos em Ezeiza. 9 de julho, repito, data magna argentina! Nacionalismo exaltado por Perón, a população acorrera à Capital! Supersuper lotação da hotelaria!
E agora? Colegas remediados de alguma forma conseguem hospedarias razoáveis. Calhambeque da época leva Autor à pensión coletiva. Não deu outra. Ao nascente, o despertar... encaroçado e pruriginoso por mordeduras do inseto asqueroso!
Pior ainda, Catedrático da universidade austral oferece recepção em sua residência. Convidara algumas niñas para a confraternização acadêmica portenho-paulistana. Ao analisar o pescoço lesionado desta vítima, sentenciou  alta voz , inapelável:
 “Brasilēno... SÍFILIS!”
...Dói, não dói? A essa altura me considerava expert do repulsivo Cimex lectularius, o inseto da cama. Se denunciasse a fonte local, mal-estar diplomático! Contive a gana, mas vontade de sobra pra gritar:
 Perdón Maestro! Brasilēno, si. Nadie de sífilis, pero picadura! SI PICADURA!
...Desventuras. Não bastantes! 16 de julho, ainda no país irmão, suportamos nosotros, brasilēnos en las calles, el temporal fantástico, la lluvia “copiosa”! De chistes! Final da Copa do Mundo! Brasil 1, Uruguai 2! Maracanazo!!! Pra ficar na história.
Tu Buenos Aires querido / cuando yo te vuelva a ver / no habrá más penas ni olvido... Grande Carlos Gardel! También no habrá más “chinches”, percevejos, esse, o nome que se dá?

Arary da Cruz Tiriba

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