25/01/2012

MAIS UMA VEZ SÍSIFO

Aproveitando um belíssimo comentário do Marcos Gimenes Salun no Grupo Facebook Sobrames ,
https://www.facebook.com/groups/260196327365176/  incluo aqui a poesia "Mais Uma Vez, Sísifo":

Na página marcada, não mudei o disco.
A taça está vazia. Cruel é a lucidez.
Na mesmice selada, fiquei mais arisco.
Raiou o dia e tudo acontece outra vez.

Hoje eu acordei Sísifo, em louco sufoco,
a empurrar uma pedra na íngreme montanha.
Pra aumentar o suplício, não cheguei ao topo.
No rolar dessa pedra, repetiu-se o drama.

É tão trágica a sina que o mito revive:
Pra findar o castigo, sempre falta um triz.
Minha lágrima ensina: nem tudo é possível.
Quase encontrei meu ninho, quase eu fui feliz.

Com o olhar posto ao chão, nem sempre me acomodo.
Com grande fardo eu luto... Pra quê? Para nada!
Na triste solidão, tudo jaz ao seu modo.
Tento mudar o rumo... Volto à mesma estrada.

Mas a roda do tempo me fez ser criança.
Sísifo se prepara para a árdua tarefa.
Apesar do tormento, devolve a esperança
que perdida eu julgara na longa quimera.

No absurdo real que a poesia ensaiou
vi Sísifo ao sopé, cansado, mas contente.
Na centelha imortal que alivia essa dor,
ele segue com fé: Há de ser diferente!

A minha alma, encantada, não mais se entristece.
Descobriu a magia dessa insensatez.
Se, através da jornada, a vida se enobrece,
eu abraço esse dia e... começo... outra vez.

NOTA:
Sísifo é um personagem mitológico que foi condenado pelos deuses a empurrar uma enorme pedra até o topo de uma montanha. Mas, a pedra sempre rolava antes de chegar ao cume... O ganhador do Prêmio Nobel Albert Camus escreveu em 1942 “ O Mito de Sísifo – Ensaio Sobre o Absurdo” cujo tema inspirou essa poesia.
“... A própria luta em direção aos cimos é suficiente para preencher um coração humano. É preciso imaginar Sísifo feliz.”

Márcia Etelli Coelho

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