Um aroma de tomilho.
Milho verde como acompanhamento
semeado e disperso no prato de louça antiga.
Bem no fundo do fundo prato,
na mesa de pinho-de-riga.
Canjica secando ao relento
na panela de ferro sem tampa
na beirada de baixo da janela.
Cortina de tule rasgando ao vento,
subindo e descendo rampa,
com avidez de folhas secas de outono,
folhas de cardo, de choupo, de aroeira,
como um rato que se apodera do queijo,
não importa o tamanho da ratoeira.
Amêijoas na concha bivalve
aguardando fechadas na caçarola,
vieiras como nacos de palmito,
palitos espetando sonhos
como etéreos aperitivos,
bebendo o fel dos pesadelos
em seus sustos de bonecos de mola,
de espantalhos berrantes de palha,
em seus terrores mais bisonhos.
Frutinhas de olho-de-macaco,
gotinhas vermelhas diminutas
desafiando o sistema métrico
e manchando a gola da camisa.
Mucama de goma vincando a calça
com vapor quente do ferro elétrico.
O polegar indolente metido
na alça folgada do cinto,
senso estrito, senso lato.
O pé lustrando a botina furada
com a graxa seca, enlameada,
da biqueira da ponta do sapato.
O dente mascando fumo,
a saliva cuspindo o resto,
resto que entorta a boca
no uso do cachimbo torto.
Comendo na raspa da tigela,
na raspa da raspa do tacho,
ela cebola, ela batata, elas por elas,
estalando a língua, derretendo
um céu no céu da boca,
no sabor amarelo-amargo
de folhas da mostarda crua
com estranho cheiro de baunilha,
que nem bilha d’água mata a sede
ou nem bem mal a sede atenua.
Sergio Perazzo
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SERGIO PERAZZO, CONTINUA UM TECELÃO DAS PALAVRAS.QUAISQUER QUE SEJAM ELAS, SOFREM UM TRATAMENTO REQUINTADO E DELICADO, METRICO, E SOANTE QUE LEMBRA MUSICA.SEMPRE LEMBRA MUSICA.
ResponderExcluirÉ NESTE MOMENTO QUE A CRIAÇÃO POETICA AFLORA SEUS SEGREDOS.É NESTE MOMENTO QUE DO NADA AS COISAS SURGEM. - COLORINDO O SILENCIO.