23/08/2012

A ERA DAS SACOLINHAS

Logo cedo vou até ao sapateiro buscar os sapatos que deixei para conserto. Ele solícito mostra o serviço feito. Após ter pago, eu recebo os meus sapatos dentro de uma sacola de cor muito diferente da que eu havia trazido dias atrás. Espantada vejo que é uma sacola de uma loja da cidade de São Francisco dos Estados Unidos. Que coisa engraçada! Como tais sacolas, agora duradouras, passeiam pelo mundo. Os tempos mudam e com eles muitos hábitos também.
No momento atual, uma polêmica e uma decisão  dos donos de supermercados ou do  governo está transformando a vida das donas de casa num verdadeiro reboliço. Uma mudança terrível deixou atônitos os frequentadores de supermercados. As sacolas de plástico estavam com o fim decretado!
Há poucos meses foi resolvido, não sei se, só pelo governo, pelas entidades defensoras da natureza ou pelos donos de supermercados: não mais serão oferecidas as sacolas plásticas, embalagens usadas há muitos anos!
Poluem muito o meio ambiente e não era mais possível serem distribuídas. Uma quantidade exagerada desse material para uso dos clientes dos supermercados estava criando problemas para o planeta terra. Era o que eles alegavam, mas a polêmica não está terminada. Havia algo por trás do que não sabemos muito bem: gastos exagerados com essas embalagens? Dificuldades em destruir o material de que são feitas?
Usadas para embalar verduras, frutas, carnes, enfim todas as compras de supermercado, facilitavam e muito a vida da dona de casa, que depois as utilizavam para vários fins domésticos. De todos os lados houve reclamações. Como deveriam os frequentadores de supermercados embalar e carregar as suas compras? Ao mesmo tempo, a indústria e o comércio muito criativos fizeram surgir embalagens, ditas recicláveis, não poluidoras e que deveriam ser compradas! Isso mesmo  adquiridas dos supermercados! 
Estes imediatamente colocaram à venda, sacolas de diferentes materiais, coloridas e  atrativas. Ou os clientes poderiam usar, durante algum tempo, as caixas de papelão, sobras de embalagens de mercadorias recebidas pelos ditos supermercados. Estaria sendo uma maneira dos supermercados se desfazerem delas? ou então... cada um que resolvesse como deveria  carregar as suas compras. Mas sacolinhas plásticas nunca mais! Protestos de todos os lados. Dúvidas pairando pelo ar... Mas ficou assim agendada a data para não mais serem distribuídas as célebres embalagens plásticas, alvo de tanta polêmica.  O que aconteceu foi que as pessoas foram obrigadas a munir-se de carrinhos, cestas, sacolas recicláveis - as mais variadas, oferecidas e vendidas nos mesmos supermercados – ou então buscarem outras formas de carregarem as suas compras.
Recentemente li, que em alguns municípios, por uma lei, o prefeito obrigou esses estabelecimentos a darem embalagens para as mercadorias compradas. Fosse de que material fosse, as compras deveriam ser embaladas! Mas em São Paulo a população, ainda que protestando, teve que recorrer à solução apresentada:   comprar embalagens  vendidas nos mesmos supermercados ou utilizar outras adquiridas no comércio. O que este deve achar muito interessante tal medida, pois assim surgiu nova maneira de se aumentarem as vendas.
Acho que em breve teremos que sair das lojas, carregando nas mãos um par de sapatos que acabamos de adquirir ou ainda com uma dúzia de copos de vidro na sacola que nos lembramos de levar, pois não serão dadas mais embalagens de tipo algum! Mas se nos lembrarmos que em Paris vemos as pessoas carregando o pão que acabaram de comprar - uma baguette de uns 30 centímetros ou mais - debaixo do braço, sem nenhum invólucro, nada mais nos espantará...
Mas mesmo assim quando vejo alguém com uma sacolinha de plástico, branca ou colorida , escrita com os nomes das lojas ou supermercados de sua origem começo a relembrar como eram antigamente embaladas as nossas compras.
Eu era criança. Morava no bairro do Paraíso e havia o empório ou melhor a vendinha do seu Manuel - português é lógico - na esquina de nossa casa. Às vezes minha mãe me mandava comprar algo como um quilo de arroz ou de açúcar. Tudo que se pesava era vendido a granel. O Sr. Manuel apanhava  uma folha de papel de cor  acinzentada, talvez o dobro de uma folha do sulfite de hoje, punha na balança, pesava a compra e sobre o balcão, dobrava  o papel, com muita prática: enrolava as duas beiradas do papel juntas, compondo um rolinho que fechava o embrulho. Em cima era dada uma dobra mais marcada para proteger o que estava lá dentro. E eu ainda criança, com os olhos na altura do balcão acompanhava o seu trabalho de artista! Ai da gente se não chegasse depressa em casa, pois muitas vezes o pacote se desmanchava e lá se iam o arroz, ou o feijão ou as batatas pelo chão. Era um desastre não levar a sacola de lona ou de crochê que a nossa mãe, toda vez, recomendava para que não nos esquecêssemos.
 Ainda me lembro de quantas vezes comprei 100 gramas de balinhas, nesse mesmo empório, que eram embaladas dessa maneira. Saquinhos de papel ou celofane só em bomboniére.
Nas padarias, os pãesinhos eram colocados no meio da folha de papel que depois dobrada, duas pontas do papel eram torcidas  juntas, de cada lado, formando  umas orelhinhas  bem simpáticas.
 Os ovos... ora, os ovos eram colocados em saquinho de papel, intercalados com palha de arroz para não se quebrarem. Proteção que nem sempre funcionava e corria-se o risco de chegar a casa com algum  quebrado.
Na quitanda os legumes e verduras (ás vezes um pouco úmidas) vinham enrolados em jornal, o que fazia chegarmos muitas vezes com o pacote todo molhado, já meio desmanchado!
 Ir á cidade fazer pagamentos ou compras era um passeio formidável. Depois da mercadoria paga, íamos ao balcão dos pacotes e o empacotador embrulhava a compra. Usava papel de embrulho rosa, amarelo ou mesmo pardo. Amarrava com barbante, e para cortá-lo, enrolava várias voltas no dedo e com um puxão o arrebentava. E muitas vezes ainda, com as pontas do cordel, fazia uma alça para a gente carregar. Tudo que se comprava era embrulhado com papel e amarrado com barbante mais fino ou às vezes mais grosseiro.
Tempos mais tarde surgiu então a fita adesiva, transparente, que como muitos outros produtos popularizou-se com o nome do seu fabricante: Durex. Era uma grande invenção; dispensava-se o barbante e com facilidade um pacote era feito, bem fechado e com as dobras do papel bem assentadas. Já era um progress.
 Pacotes bem embrulhados para presente, com fitas, etiquetas, só nas lojas mais finas, sempre no centro da cidade e que geralmente eram entregues em casa. Como iríamos transportar aqueles pacotes no bonde ou ônibus.
A era do nylon, do plástico, do após guerra por volta de meados do século XX, trouxe muitas novidades. Foi o começo da americanização da nossa vida. Surgiram os supermercados e com eles mais tarde os sacos de plásticos, sacolas para carregar os mantimentos, frutas etc. Era uma alegria para as donas de casa, que passaram a usar a criatividade no aproveitamento das sacolas. Ainda não se pensava nos problemas da poluição ambiental.
Aos poucos foram substituindo o papel. Surgiu a preocupação de que o fabrico do papel causava devastação nas florestas. Mas hoje sabemos que grandes firmas plantam matas de eucaliptos, até em sítios ou fazendas, que frequentemente são arrendados para essa finalidade. Mas enquanto isso nas lojas e nos supermercados - estes no lugar dos pequenos empórios de bairro - foram aparecendo as sacolas plásticas coloridas, impressas com nome e endereço das firmas, notícias de crianças desaparecidas, recomendações de saúde ou mesmo propagandas de produtos.
Hoje ao receber uma sacolinha internacional, de plástico, penso como a vida mudou. Volta-me à lembrança, que no passado nossas mães e avós quando iam à feira, carregavam as compras em sacolas de lona. E se iam ao empório, quitanda ou açougue levavam sempre sacolinhas feitas de crochê ou de tecido, coloridas, bem criativas. Mas mesmo assim eram felizes e não reclamavam.

Maria do Céu Coutinho Louzã

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