04/12/2012

MI BUENOS AIRES QUERIDO

Segue o conto de Helio Begliomini que conquistou o segundo lugar no Concurso Literário da Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES) 2012:
 
Parecia incrível, mas, um sonho sequer imaginado há anos atrás, tornara-se realidade.
Casaram-se jovens. Ela tinha 18 e ele 26 anos. Como todos da mesma idade, certamente estavam impregnados de muitos sonhos e ardente vibração pela vida a dois que teriam. A lua de mel foi uma viagem de navio a Buenos Aires – Argentina. Jamais tinham saído do Brasil e nada melhor do que a comemoração das núpcias para conhecer um país evoluído, charmoso e atrativo, tudo em pleno abril de 1953.
Apesar da sofisticação do navio, ela não pôde aproveitar bem a gastronomia e a diversão em virtude do mal-estar que o balanço do mar lhe causara.
Certamente Buenos Aires era uma cidade esplêndida. A Casa Rosada, palácio do governo nacional; a catedral de frente à mesma Plaza de Mayo; o metrô subterrâneo, um dos mais antigos do mundo!; o imenso rio La Plata; o vetusto teatro Colón, palco de grandes óperas, renomados artistas e afamados concertos; o delicioso bife de chorizo, com las papas fritas e, para não esquecer, o sentimental e sensual tango entre tantas atrações turísticas e gastronômicas que marcariam aquela estadia.
Entretanto, tudo o que é  bom dura pouco, assevera o ditado popular. De regresso à vida real, recomeçaram com muito trabalho de ambos os lados. Ele tinha curso de guarda-livros, o que corresponde ao de contador nos tempos atuais. Ela, assim como a grande maioria das mulheres contemporâneas dedicou-se ao lar.
Meses após o casamento ela engravidou, mas um sério tombo acarretou a perda do concepto.
No ano seguinte – l955, nasceu seu primeiro filho. O segundo veio em 1957 e o terceiro, uma menina em 1965. Nessa ocasião ele tinha juntamente com seu irmão, técnico em eletrônica, um comércio que começou com o conserto de bicicletas e que se expandira para venda de eletrodomésticos e a fabricação de televisores, numa época em que não havia grande tecnologia, assim como diversidade de indústrias.
Ela continuava muito bem cuidando do lar e da casa. Passaram-se os anos não apenas com o casal, mas, como toda família, multiplicaram-se os momentos de alegria e também os dissabores que a contingência da vida possa ocasionar.
O filho mais velho estudou medicina – era seu sonho desde tenra idade. Apesar de achar que seu pai intimamente preferisse que ele o ajudasse no comércio, nunca fora desestimulado de seu desiderato.
O segundo filho estudou administração de empresas, e a filha caçula tradução – intérprete.
Os anos continuaram passando e alcançaram o privilégio de ver os filhos de seus filhos. Tiveram sete netos sendo três do casamento do filho mais velho; outros três do casamento de seu segundo filho; e dois das núpcias da filha caçula, que tragicamente perdeu uma menina recém-nascida de parto prematuro.
A vida foi-lhes acumulando a sensação de plenitude que talvez seja fruto da experiência vivida e absorvida com seus contrastes, vivos momentos e coloridos percalços.
Quando o casal comemorou 48 anos e meio de vida conjugal, o segundo filho resolveu pôr em prática um grande sonho seu. Por que não passar todos: pais e três filhos com seus cônjuges, alguns dias em Buenos Aires e marcar indelevelmente nossas famílias?
E assim foi feito. Precisamente em novembro de 2002, estiveram reunidos em vários pontos turísticos e gastronômicos que seus pais tinham estado há quase meio século de distância.
Entretanto, não era mais um casal solitário e cheio de ideais de tempos atrás. Muitos dos sonhos tinham-se realizado. A família havia se multiplicado como talvez eles nunca tivessem imaginado no entusiasmo e no dinamismo da lua de mel.
Muita água passara embaixo da ponte de suas existências! O tempo tinha-lhes esculpido rugas em seus rostos... o encanecimento dos cabelos... a perda da lepidez física e da agilidade mental de outrora... o acúmulo de peso e de artroses... entre outros revezes.
Contudo, o denominador comum continuava sendo aquele jovem casal que se perpetuara no tempo através de seus filhos e netos.
Naqueles momentos, a Plaza de Mayo... os shows de tango... o city tour... o passeio pelo rio La Plata e tantas outras atrações tiveram um sabor inimaginável e inesquecível, não somente na vida daquele casal, mas também na harmonia extasiante que todos os seus familiares sentiram.

Helio Begliomini
 

 

 

 

 

 

 

 

 

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