Como nos sonhos,
podia andar naquele vasto corredor largo. Cada porta guardava uma história; ela
sabia. Ao abri-las os personagens se iluminariam e subindo no palco iriam representar
suas vidas. Perguntava-se: cada porta poderia ser acionada inúmeras vezes?
Iniciar essa
visita seria um trajeto instigante; levada pela curiosidade, sentia-se estimulada
ao abrir uma a uma, cada porta, e se entregar de corpo e alma a cada visita. Não
era muito claro o procedimento dos personagens se instalarem lá dentro. Realmente
havia uma grande porta central, no fundo, com certeza era por lá onde tudo
começava.
Outra inquietação;
como esses personagens eram aceitos? Qual seriam as condições; talvez sofrimentos,
alegrias, ou até mesmo algum particular problema que teria influenciado suas
vidas e até mudado o curso natural delas.
Apesar de certo
receio poder impedir sua investigação, esse era logo dissipado. Além do forte
interesse, alguma coisa a movia; ao mesmo tempo ela participava de uma modo
diferente de quem só assistisse a um espetáculo. A sensação de
sonhar se criava e se evanescia.
Por detrás de
tudo isso havia uma tradição que
alimentava seu desassossego a ponto de
vencer os medos. O que havia de tão interessante? Uma atividade humana tão
antiga e recente, simultaneamente, quase um paradoxo.
Perdia-se em reflexões de como alguém poderia escolher tal ocupação. Providenciar para aqueles
personagens adentrarem as portas mediante um conhecimento prévio de suas histórias
e depois se dedicar a cada um especificamente.
Quantas
promessas de quem vem se ocupando de tal
tarefa! Seriam essas suficientes para a incitar prosseguir e enfrentar todos os seus receios?
Comprometer-se
com essa atividade seria uma experiência única, humana, gratificante e
consagrada. Assim plantou a semente da coragem prosseguir jornadas novas quando abrisse cada
porta.
Dividiria seu
tempo compartilhando cada vida que os personagens reviveriam. Poderiam até renascer
no encontro humano e verdadeiro que se daria ao iluminar o palco acionado pelo
toque de cada maçaneta. Estavam batizadas a da mitologia, a dos contos de fadas,
a das alegorias. Do tempo, dos bebês; da inconstância, eram consagradas; mas a
porta denominada outrora, por ser considerada um tabu, era muito interessante.
Algumas passariam despercebidas, se não fossem
a insistência de seus habitantes que faziam questão de marcar sua presença, nem
que fosse por causa de um pequeno grito ou barulhinho mínimo. Outras, anônimas,
ainda esperavam seus personagens adentrarem.
O que era inusitado? As histórias só
seriam entrelaçadas se ela soubesse tecer um fio que desse um sentido
particular a todas. Isso dependeria de suas capacidades pessoais e também de
seu interesse em cada personagem. Haveria um amadurecimento e preparos a serem providenciados.
Como se daria tudo isso?
Conhecer alguns segredos
desse caminho seria interessante. Nossa! Isso seria imprescindível! Teria algo
a mais que só seria adquirido na própria prática. Tudo isso era muito
intrigante. Será que conseguiria enfrentar todos os medos?
Nas profundezas
de cada personagem, haveria uma aprendizagem. Essas histórias já teriam sido
vividas e permaneciam fechadas ou até trancadas; só voltando à ação, como se
dizia , quando os enredos fossem retomados. Cada imagem voltaria novamente toda
vez que se reabrisse a porta? Seria uma questão de memória? Ou estaríamos
simplesmente diante da vida?
No âmbito da memória estaria ela e os
seus personagens somente relembrando; ou o diferencial dessa atividade é vê-los
brilhar no palco onde a vida se
reconstrói em seu mais alto quesito do desenvolvimento humano.
SUZANA
GRUNSPUN
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