Um reconhecimento pela sua excelente capacidade histórica e memorialista.
Segue um dos textos de sua autoria.
Manoel
Rollemberg – Cirurgião e Humanista
É
impressionante como, por vezes, nos simpatizamos ou nos afeiçoamos com alguém
sem que tenhamos tido um relacionamento próximo ou persistente, mas,
paradoxalmente, agimos como se tal fosse. Essa afinidade parece ser uma espécie
de conexão extemporânea... atração magnética... ou sinergia de almas... O segredo
talvez resida na similaridade de comportamentos, personalidades, ideias e
misteres.
Conhecia-o
há diversos anos à distância, através da leitura de seus artigos, crônicas e
memórias que publicava em seções culturais de boletins e periódicos médicos,
sem jamais saber como era seu rosto ou detalhes de sua compleição. Era atraído
pela maneira leve, escorreita, cativante, às vezes erudita de se expressar
quando escrevia. A simpatia era tanta que ao ver um artigo de sua autoria, ou o
lia de imediato ou marcava a página para saboreá-lo num momento oportuno, visto
que considerava sua lavra imperdível.
Sem
nos conhecermos, tínhamos dentre tantos denominadores comuns o encanto pela
medicina, a atividade cirúrgica, o passatempo da escrita, o gosto pela cultura
e, sem que talvez soubesse, a militância contra a civilização do descartável;
que, com a iconoclastia que lhe é inerente, destrói ou desdenha profissionais
exemplares – os quais, ao contrário, deveriam ser enaltecidos, perenizados e
imitados.
Informado
há algumas semanas de seu falecimento, fui surpreendido com seu derradeiro
artigo “A Saga de um Mestre: Evarts
Ambrose Graham e a Primeira Pneumectomia por Câncer de Pulmão” publicado no
Atualidades Cirúrgicas (número 54 –
setembro de 2012, páginas10-11), boletim informativo do Capítulo de São Paulo
do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Li com inusitado carinho e nostalgia suas considerações, pois sabia que de suas
mãos e intelecto jamais seriam – infelizmente – produzidas similares
preciosidades.
Refiro-me
a Manoel Ignacio Rollemberg dos Santos, mais conhecido por Manoel Rollemberg.
Nasceu em Novo Horizonte, no interior do estado de São Paulo, em 8 de maio de
1933, e graduou-se pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo, em 1960.
Dedicou-se
com afinco à Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo, tornando-se assistente efetivo (1963) e docente da cadeira de cirurgia
de tórax (1963-1969), à época, dirigida pelo professor Nairo França Trench. Aí
também atuou como segundo secretário; criador, editor e diretor do Jornal da
Associação dos Médicos na administração de Emilio Athiê (1962-1964).
Paralelamente,
em 1963, foi aprovado em concurso nacional para cirurgião do Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), onde atuou de 1964 a 1969
como membro da equipe de cirurgia cardiovascular (1964-1965) dirigida pelo dr.
Hugo Felipozzi.
Dentre
outros cargos que ocupou, salientam-se o de cirurgião de tórax do Hospital
Miguel Pereira da Divisão de Tuberculose
do Estado de São Paulo (1962-1990), e o de chefe do Serviço de Cirurgia
Torácica do Hospital do Servidor Público Municipal (1983-2003).
Manoel
Rollemberg foi membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (titular, 1980; e
emérito, 2009); Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (fundador, 1979;
secretário, 1981-1982; e presidente, 1983-1984); e Centro de Estudos do
Hospital do Servidor Público Municipal (presidente, 1993-2003).
Tive
o privilégio de conhecê-lo pessoalmente há cerca de sete meses, por ocasião de
seu ingresso em 7 de março de 2012, como primeiro ocupante da cadeira no
97, sob a patronímica de Luiz Gonzaga de Amarante Cruz, da vetusta Academia de
Medicina de São Paulo, entidade que também vibrava por pertencer. Modesto, cortês,
discreto, atencioso, prestativo, circunspecto eram algumas de suas virtudes
observadas em nossos rápidos encontros nas reuniões mensais desse sodalício.
Fui
igualmente honrado em assistir uma palestra que proferiu – ricamente ilustrada
com imagens no data show – na
tertúlia de julho desse mesmo ano da Academia de Medicina de São Paulo
intitulada “Comentários Sobre o Santo
Sudário”. Nela depreendi sua vasta cultura, erudição, espírito perquiridor
e amante da verdade dentre outras qualidades albergadas num corpo magro, mas
repleto de humildade e mansidão, predicados nobres daqueles que possuirão a
terra.
Manoel
Rollemberg colaborou com artigos no Suplemento Cultural da Associação Paulista
de Medicina; Suplemento Cultural da Associação Médica Brasileira; Atualidades
Cirúrgicas do Capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e no Jornal
do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
É
também de sua autoria os livros: Nos
Tempos da Panair (2001); O Vôo do
Poeta Dalmo Florence (2004) e O
Santo Sudário não é um Sudário (2007).
Infelizmente
desfrutei de parcos e rápidos momentos pessoais com Manoel Rollemberg, visto
que faleceu em 26 de outubro de 2012, aos 79 anos. Contudo, deleitei-me com seu
cabedal cultural através do que esmeradamente escreveu. Jamais imaginei que lhe
dedicaria um necrológio, mas, faço-o com carinho e admiração, pois além de ter
sido um renomado cirurgião e semeador de discípulos, foi um grande humanista
contemporâneo da milenar arte de Hipócrates!
HELIO BEGLIOMINI
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradecemos sua atenção. Se possível deixe informações para fazermos contato.