20/11/2014

MANOEL ROLLEMBERG - CIRURGIÃO E HUMANISTA

Dia 19 de novembro de 2014 o sobramista paulista Hélio Begliomini tomou posse como membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Um reconhecimento pela sua excelente capacidade histórica e memorialista.
Segue um dos textos de sua autoria.

Manoel Rollemberg – Cirurgião e Humanista

É impressionante como, por vezes, nos simpatizamos ou nos afeiçoamos com alguém sem que tenhamos tido um relacionamento próximo ou persistente, mas, paradoxalmente, agimos como se tal fosse. Essa afinidade parece ser uma espécie de conexão extemporânea... atração magnética... ou sinergia de almas... O segredo talvez resida na similaridade de comportamentos, personalidades, ideias e misteres.

Conhecia-o há diversos anos à distância, através da leitura de seus artigos, crônicas e memórias que publicava em seções culturais de boletins e periódicos médicos, sem jamais saber como era seu rosto ou detalhes de sua compleição. Era atraído pela maneira leve, escorreita, cativante, às vezes erudita de se expressar quando escrevia. A simpatia era tanta que ao ver um artigo de sua autoria, ou o lia de imediato ou marcava a página para saboreá-lo num momento oportuno, visto que considerava sua lavra imperdível.

Sem nos conhecermos, tínhamos dentre tantos denominadores comuns o encanto pela medicina, a atividade cirúrgica, o passatempo da escrita, o gosto pela cultura e, sem que talvez soubesse, a militância contra a civilização do descartável; que, com a iconoclastia que lhe é inerente, destrói ou desdenha profissionais exemplares – os quais, ao contrário, deveriam ser enaltecidos, perenizados e imitados.

Informado há algumas semanas de seu falecimento, fui surpreendido com seu derradeiro artigo “A Saga de um Mestre: Evarts Ambrose Graham e a Primeira Pneumectomia por Câncer de Pulmão” publicado no Atualidades Cirúrgicas (número 54 – setembro de 2012, páginas10-11), boletim informativo do Capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Li com inusitado carinho e nostalgia  suas considerações, pois sabia que de suas mãos e intelecto jamais seriam – infelizmente – produzidas similares preciosidades.

Refiro-me a Manoel Ignacio Rollemberg dos Santos, mais conhecido por Manoel Rollemberg. Nasceu em Novo Horizonte, no interior do estado de São Paulo, em 8 de maio de 1933, e graduou-se pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, em 1960.

Dedicou-se com afinco à Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, tornando-se assistente efetivo (1963) e docente da cadeira de cirurgia de tórax (1963-1969), à época, dirigida pelo professor Nairo França Trench. Aí também atuou como segundo secretário; criador, editor e diretor do Jornal da Associação dos Médicos na administração de Emilio Athiê (1962-1964).

Paralelamente, em 1963, foi aprovado em concurso nacional para cirurgião do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), onde atuou de 1964 a 1969 como membro da equipe de cirurgia cardiovascular (1964-1965) dirigida pelo dr. Hugo Felipozzi.

Dentre outros cargos que ocupou, salientam-se o de cirurgião de tórax do Hospital Miguel Pereira da Divisão de Tuberculose  do Estado de São Paulo (1962-1990), e o de chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital do Servidor Público Municipal (1983-2003).

Manoel Rollemberg foi membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (titular, 1980; e emérito, 2009); Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (fundador, 1979; secretário, 1981-1982; e presidente, 1983-1984); e Centro de Estudos do Hospital do Servidor Público Municipal (presidente, 1993-2003).

Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente há cerca de sete meses, por ocasião de seu ingresso em 7 de março de 2012, como primeiro ocupante da cadeira no 97, sob a patronímica de Luiz Gonzaga de Amarante Cruz, da vetusta Academia de Medicina de São Paulo, entidade que também vibrava por pertencer. Modesto, cortês, discreto, atencioso, prestativo, circunspecto eram algumas de suas virtudes observadas em nossos rápidos encontros nas reuniões mensais desse sodalício.

Fui igualmente honrado em assistir uma palestra que proferiu – ricamente ilustrada com imagens no data show – na tertúlia de julho desse mesmo ano da Academia de Medicina de São Paulo intitulada “Comentários Sobre o Santo Sudário”. Nela depreendi sua vasta cultura, erudição, espírito perquiridor e amante da verdade dentre outras qualidades albergadas num corpo magro, mas repleto de humildade e mansidão, predicados nobres daqueles que possuirão a terra.

Manoel Rollemberg colaborou com artigos no Suplemento Cultural da Associação Paulista de Medicina; Suplemento Cultural da Associação Médica Brasileira; Atualidades Cirúrgicas do Capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e no Jornal do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.

É também de sua autoria os livros: Nos Tempos da Panair (2001); O Vôo do Poeta Dalmo Florence (2004) e O Santo Sudário não é um Sudário (2007).

Infelizmente desfrutei de parcos e rápidos momentos pessoais com Manoel Rollemberg, visto que faleceu em 26 de outubro de 2012, aos 79 anos. Contudo, deleitei-me com seu cabedal cultural através do que esmeradamente escreveu. Jamais imaginei que lhe dedicaria um necrológio, mas, faço-o com carinho e admiração, pois além de ter sido um renomado cirurgião e semeador de discípulos, foi um grande humanista contemporâneo da milenar arte de Hipócrates!     

HELIO BEGLIOMINI

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