14/02/2015

SKOL, SENHORA

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             Na sala de embarque do aeroporto de Madri uma grande movimentação. Uma guia baixinha corria de um lado para o outro. Simpática, usava um chapéu com uma flor grande e bem colorida. Explicava a todos que era assim espalhafatoso, para que não a perdessem de vista. Com umas páginas na mão tinha a sua lista de excursionistas e corada pela agitação ia conferindo no seu calhamaço de muitas páginas.  Tentava encontrar os turistas novos. Estes  deveriam se agregar ao grupo que já havia feito os passeios pela Espanha. A excursão agora  tomaria o rumo dos países nórdicos.

            Podia-se observar como o grupo era interessante e bem heterogêneo, como acontece quando se reúnem pessoas dos mais variados países. Chegavam novos excursionistas e como não poderia deixar de haver, também alguns espanhóis. No saguão bem movimentado estavam casais jovens ou mais velhos. Viam-se brasileiros, japoneses e também casais dos países árabes, quando as esposas muito bem vestidas, traziam a cabeça coberta por lenços coloridos enrolados pelo pescoço, de maneira a esconder os cabelos.  A guia se preocupava  em verificar passaportes e responder às perguntas que lhe dirigiam, dando as boas vindas sempre falando em inglês.

            A animação pressagiava dias interessantes no convívio dos excursionistas. Naturalmente havia olhares curiosos, porém disfarçados, mas  que certamente aprovavam a algazarra muito animadora.  O que é comum entre pessoas que estariam convivendo e até fazendo novos conhecimentos pelos próximos dias. A excursão dirigia-se a Oslo primeiramente. E depois de visitar toda a Noruega, partiria para visitar os demais países da Escandinávia.

             De repente a tão esperada chamada para embarque. Formadas as filas partia assim um grupo de pessoas que certamente com grandes expectativas e curiosidade, esperavam aproveitar  a sua viagem. Tudo corria como era esperado. Um voo tranquilo  de poucas horas

            Assim, depois do avião posado, retirada das malas e o embarque em ônibus que levaria os excursionistas para o hotel, mais uma vez a guia se deteve em explicações quanto ao horário das refeições, partidas para excursões e hotéis. Porém, era importante que não esquecessem  o jantar, de boas vindas, que se daria dali a poucos momentos Era a ocasião bem propícia  onde todos poderiam se conhecer e aproveitar para se apresentarem, visto que passariam duas semanas de convívio agradável e repleto de surpresas muito bonitas.

            Timidamente,  à hora marcada os turistas chegavam para o jantar e todos iam se acomodando nas longas mesas muito bem enfeitadas com flores. Os copos de um tamanho maior do que o costume.

            Um jovem senhora, pequenina, simpática e até mesmo bonita  buscou lugar na mesa. Ela deveria ter seus quarenta anos, e à sua frente sentou-se um senhor, alto, elegante, bem simpático, um pouco mais velho. Logo se identificaram nascidos na Espanha e, viajando pela primeira vez. Ela, modista em uma pequena cidade escolhera a Escandinávia por ter uma grande curiosidade. Ele, elegantemente vestido, de terno e gravata logo explicou que era filho de noruegueses. Mas havia nascido e vivido sempre em Madri. Chegara finalmente  o momento de conhecer a pátria dos pais.

            A guia, sempre alegre e preocupada  fez alguns comentários a respeito do jantar. E enfatizou o costume de se fazer um brinde como faziam os antigos povos nórdicos, da Noruega. Ao levantar o copo com cerveja, a palavra para saudar era Skol que significava saúde e após, deveriam bebê-la de uma só vez. Sem demora o senhor  espanhol, erguendo o seu copo, elegantemente e olhando para sua conterrânea à sua frente, proferiu muito compenetrado : Skol, senhora! . Ela o olhou um pouco assustada, mas erguendo o copo tocou no do seu companheiro de viagem, repetindo a saudação. Mas não podia desapontá-lo... deveria retribuir o seu brinde  e deixar o copo vazio...

            A excursão seguiu seu rumo e naturalmente enfeitou e cumulou de surpresas agradáveis e enriquecedoras todos os seus participantes. Como de costume no final, as despedidas. Os excursionistas educadamente trocavam cartões de endereços próprios e promessas de manterem correspondência.  Ou talvez encontros em seus próprios países. Afinal a convivência de poucas semanas propiciara alguns bons  e simpáticos conhecimentos.

            Algum tempo depois, em uma praça de Madri, em uma calçada viam-se  lindos guarda-sóis, enfeitando algumas mesinhas  de uma confeitaria. Em uma delas um senhor elegante, sentado à frente de um copo de cerveja, aguardava a chegada da excursionista companheira, que o havia encantado na viagem à terra dos seus  ancestrais.

             MARIA DO CÉU COUTINHO LOUZÃ

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