Ele era um jovem simpático, afável,
bem-apessoado e no fulgor de sua vida. Pela sua aparência e desenvoltura
ninguém poderia imaginar as peripécias que fizera para estudar, tendo sua mãe –
professora primária – como grande fonte motivadora. Pouquíssima recordação
tinha de seu pai, visto que morrera quando tinha apenas três anos. Havia
realmente “comido o pão que o diabo amassou” para conquistar o sonho de sua
vida, acalentado desde sua adolescência. Transferiu-se de sua cidade – no
interior de Minas Gerais – para a capital do estado. Enquanto cursava a faculdade, que era de
tempo integral, tinha que trabalhar durante a noite como telegrafista. Graduara-se
pela Faculdade de Medicina em Belo Horizonte, em 1927.
Nutrido por desejos de maiores
conhecimentos, partiu para a Europa em 1930, mercê de uma pequena reserva
financeira que amealhara com trabalho nos anos subsequentes à sua formatura.
Estagiou na França com o professor Maurice Chevassu, uma das maiores
autoridades mundiais em urologia da época, e, após seu regresso, não somente
dominou essa especialidade, mas também se tornou um dos primeiros uropediatras
brasileiros.
Seu ingresso, em 1931, na Força Pública
de Minas Gerais, na condição de capitão médico, o levaria fatidicamente a atuar
nos Hospitais de Sangue contra os soldados paulistas da famigerada Revolução
Constitucionalista de 1932.
Entre um atendimento e outro, muito
próximo ao teatro de operações, quis o destino fortuito que Benedito, um
delegado de então, dias depois da folia, caísse em suas mãos para
tratamento de uma uretrite. Embora estivesse numa época desprovida de
antibióticos, aquele jovem médico não somente impressionou o delegado pela sua
competência profissional, mas, principalmente pela sua brilhante inteligência
adornada por uma personalidade alegre, dinâmica, cativante e envolvente. Era um
verdadeiro causeur como se dizia em
tempos idos.
Influenciados por amigos, três anos após
a guerra, aquele jovem médico decidiu experimentar a vida pública e se elegeu
deputado federal por Minas Gerais, experiência que durou apenas dois anos em
decorrência do Estado Novo – golpe de estado estabelecido pelo presidente Getúlio
Vargas.
Benedito também ingressara na política.
Tornara-se, em 1940, governador do estado, prerrogativa que lhe facultou nomear
(intimar) como prefeito de Belo Horizonte o seu antigo médico. Este aceitou o
cargo com certa relutância e, por aproximadamente dois anos, conseguiu exercer
simultaneamente a medicina, sua grande paixão.
Entretanto, seus conhecimentos
humanísticos auferidos no lar, com sua mãe, robustecidos no cuidar de enfermos
e desvalidos, associados às suas qualidades incontestáveis de liderança,
tornaram-no num dos maiores e mais populares homens públicos que o Brasil já
viu. Teve uma insólita e meteórica carreira política, desempenhando
subsequentemente cargos de governador, presidente da república e senador,
quando, juntamente com outros políticos foi cassado pelo golpe militar de 1964,
e exilado na Europa.
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto
desencontro pela vida”, asseverou o imortal vate Vinícius de Moraes.
Entretanto, a vida é igualmente feita momentos singelos... despretensiosos...
fugazes... irrepetíveis, justapostos e fortemente entrelaçados, tais quais os anéis
de uma corrente que unem o presente ao passado ao mesmo tempo que com o futuro.
Quem poderia imaginar que uma singela uretrite, depois
de uma folia de Benedito Valadares Ribeiro, pudesse servir de estopim ao
ingresso como prefeito de Belo Horizonte do inesquecível médico e urologista Juscelino
Kubitschek de Oliveira, um dos mais notáveis homens públicos e mais dinâmicos
presidentes que o Brasil já teve!
HELIO BEGLIOMINI
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