Não é fácil
explicitar o que venha a ser ético hodiernamente, uma vez que este vocábulo, a
exemplo de outros como honra, reverência, decoro, probidade, pudor, civismo e
até mesmo respeito e honestidade passaram, não somente a não constar mais no
ensino e nos dicionários da vida prática de muitos jovens e adultos, mas, o que
é pior, se tornaram até motivo de chacotas àqueles que heroicamente tentam
vivê-los e transmiti-los.
Como entender
o que venha a ser ético vivendo-se na filosofia de Gerson, onde o importante é
“levar vantagem”!? Quando o tráfego de influência entre pessoas e empresas é
desmedidamente ambicionado!? Quando se prioriza cortesãos e os camarilhas das
cortes reinantes!?; Quando a falta de lisura não reside no recebimento de
propina camuflada, mas sim numa percentagem maior do que aquela que foi
“acordada entre ‘cavalheiros’” numa negociata?!
Peremptoriamente,
a ética não se associa com a desfaçatez; não venera a sem-vergonhice; não se
coaduna com o menoscabo ou mesmo o desrespeito a pessoas e instituições
idôneas; não se conluia com a mentira e a falsidade; não se mancomuna com a
injustiça; não se alinha com competições desleais no mercado de trabalho; não
se presta a calúnias ou propagações de infâmias.
Ademais, o
exercício da ética não pode exultar a filosofia robin woodiana de roubar dos ricos para dar aos pobres, o que
aparenta ser uma ação nobre mas não ética e nem honesta. Tampouco a prática da
ética pode se compactuar com o maquiavelismo, onde os fins justificam os meios
para obtê-los. Se assim fosse dever-se-ia em nome da liberdade de cada um
legitimar o aborto em detrimento da vida do nascituro, indiscutivelmente sempre
inocente; legalizar a prostituição, a fim de se ampliar o mercado de trabalho;
abonar o tráfico de drogas, largando à própria sorte seus contumazes
dependentes; descriminalizar o roubo e o crime, visto que abundam em nossa
sociedade; estimular o tráfico de pessoas, tencionando reduzir a pobreza ou o
índice populacional; favorecer o comércio de órgãos, objetivando vencer as
intermináveis filas de transplantes; dissimular a escravidão, almejando a
obtenção de uma produção mais barata; legitimar o fisiologismo entre políticos,
a ladroagem entre empresas e membros dos governos; ocultar a prática do
sequestro de crianças de pais pobres a pretexto de darem a eles lares melhores
no primeiro mundo... E certamente a lista destes maquiavélicos
sofismas se tornaria interminável!
Não se pode negar que o lado pernóstico
do jeitinho brasileiro fautoriza lograr
pessoas e instituições ,
tornando-se até motivo
de orgulho quando
deveria ser de desonra
a muitos incautos
e pobres de espírito
e de formação .
A ética tem
como predicados fulcrais o respeito ao próximo, a honestidade e a retidão de
caráter; e necessariamente como limite, o reconhecimento da liberdade alheia. Dentre
as desvirtudes que atrapalham a prática da ética encontram-se a inveja, a
ganância, o poder pelo poder, a vaidade desmesurada, a arrogância, a sovinice,
a ira, a impetuosidade, a rudeza, a intolerância e a cabotinagem... Por sua
vez, dentre as qualidades que colaboram no seu aprimoramento têm-se o
desprendimento, a magnanimidade, a temperança, a caridade, a humildade, a
paciência, a pacificidade, a mansidão, a coerência, a prudência, a tolerância,
a solidariedade e o bom senso...
Apesar dos
desmandos, dos contravalores e da ausência de limites entre o certo e o errado
que grassam na Babilônia e no contubérnio atual, a busca da ética é um bem em
si mesmo que não pode ser preterido, pois ela forja, beneficamente, não apenas
a têmpera do indivíduo, mas contribui na estruturação familiar e na construção
de um povo, de uma nação.
Helio Begliomini
Segundo Lugar no concurso de crônicas da
VIII Jornada Nacional de Médicos Escritores - Sobrames
Tubarão-SC - 15 a 18.10.2015
PARABENS HÉLIO! VÊ-SE UM TEMA NÃO MUITO FACIL SER ABORDADO DE UMA MANEIRA BEM COLOCADA.
ResponderExcluirLUIZ JORGE.