Docemente
Azedo
Vou
fechar janelas.
Para
que os ventos noturnos.
Não
tragam lembranças de outras terras...nem seus sons.
Não
quero o azedo do limão que se descascou em Dublin.
Nem
a silhueta da cortina com o desenho do Kilimanjaro.
Quero
o calor do Pacoval.
Trazendo
suor e sal.
Grudando
as axilas.
Secando
o cuspe da boca.
Enquanto
em mim brotam dissonantes notas afônicas. ...
E
a mim dizem que morreu o silêncio!
Aquele
mesmo silêncio que eu pensei
ter
colocado entre o desenho pautado de um Fado,
e
a encabulada ritmicidade de um Tango.
Desenhos
rostos que se parecem tanto com rostos,
que
se não se parecem tanto entre si mesmos.
Vou
cerrar as janelas
Vou
esfregar as pálpebras de encontro as lágrimas,
e
amordaçá-las com soluços.
Quiçá
barulho de vidro quebrando...
deveras
estalos de fraturas de ossos ... acontecendo...
Estes
sons da noite me acordam...
quando
demoro...silenciam...
atiçando a ansiosidade de ouvi-los novamente.
Quando
me enamoro da vida...
Mastigo
sombras que entram pelo vão,
entre
os sons e os silêncios.
Têm
gosto de limão.
Exatamente...
o mesmo gosto que guardo em mim.
Quando
no quintal o galo atônito e rouco...
desperta
de súbito.
Firme
com a lua presa no bico.
E
finge estar surpreso com a Aurora.
Finge
estar surpreso, com o que lhe cerca.
Vira-se
pelo avesso
O
sol lhe colore as entranhas.
Suas
lembranças saem aos borbotões, como borboletas negras.
Diria
que em Outubro voltarão libélulas.
Pode
ser que em Morse.Cantem a Aurora.
Tragam
Canções Americanas do Norte.
As
que falam das Águias.
As
que incluem corações indígenas,
pintados
nas montanhas...
As
que grafitando o metrô em Amsterdã...
acordem
o Sol.
Ou
as que simplesmente perduram afônicas em Macapá...
Porque
tudo que é longe, é tão próximo.
Tudo
que foi Ontem, será agora!
Como
meus olhos,
e
teu olhar longínquo
desenhado
na areia da poça d'água estreita, e rasa...
em
qualquer rua
após
uma chuva das duas em Belém do Pará.
Avesso
e não avesso.
Apagado
e aceso.
Estridente
e rouco. Destro e direito.
Docemente... Inutilmente ...
Com
as mãos no bolso onde guardo uma lua Minguante.
Assovio
melodias apaixonadas por silêncios!
No
avesso dos silêncios, não sou sons... sou ímpar.
LUIZ JORGE
FERREIRA
PRIMEIRA MENÇÃO
HONROSA
PRÊMIO BERNARDO
DE OLIVEIRA MARTINS 2018
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