Por: Evandro Guimarães de Sousa
Há alguns
dias, logo após uma reunião científica, eu conversava com uma aluna do curso de
pós-graduação sobre seu projeto de pesquisa. O bate-papo estava muito
interessante, pois esta aluna é muito inteligente, dedicada, educada e, além do
mais, linda e charmosa. Depois de algum tempo que conversávamos, apareceu um
jovem vestindo uma jaqueta com o emblema da Universidade e usando um crachá da
mesma instituição. Aproximou-se, não disse patavina e entregou-me um impresso.
Curioso, abri o papel dobrado e surpreso verifiquei que se tratava de um
convite para participação em um programa de atividade física para idosos
promovido por esta Universidade.
Confesso que
fiquei desconcertado na presença da aluna, que ao tomar conhecimento do que se
tratava, tentou manter o ritmo da conversa, porém com aquela expressão de quem
está louca para cair na risada! Pedi licença, informando que tinha outro
compromisso e tratei de safar-me rapidinho daquela situação.
Mais adiante
pensei com meus botões. Será que ele me entregou o papel porque tenho ainda
alguns cabelos brancos ou foi só para acabar com o meu entusiasmo por estar
conversando com a pós-graduanda?
Resolvi ler
tudo o que estava escrito. Tratava-se de um programa de treinamento físico para
avaliar o efeito do exercício relacionado com o sono, a memória e a capacidade
funcional. Muito interessante, pois eu tenho mais de 60 anos e, de acordo com o
Estatuto do Idoso, poderia ser beneficiado pelo projeto. Além do mais, não
haveria nenhum custo aos participantes. Excelente! Eu já estava entusiasmado,
pois não posso acrescentar nenhuma despesa adicional aos meus gastos mensais.
Outro
requisito para ser selecionado, era o de não praticar exercícios físicos
regularmente. Exatamente o meu caso, considerando que muito raramente pratico
uma caminhada!
O voluntário
não poderia ser portador de nenhuma doença crônica. Vou me matricular, já que
só tenho um discreto problema com algumas juntas que insistem em permanecer
endurecidas durante o período da manhã. No entanto, a minha pressão arterial
está perfeitamente controlada.
Outro item:
o candidato devia ser do sexo masculino. A vaga é minha, exclamei feliz da
vida! Entretanto, fui fulminado pela última exigência, pois o indivíduo deveria
ter idade igual ou superior a 65 anos.
Que
decepção! Eu integro aquele grupo etário que é considerado como idoso, porém
não posso receber as benesses daqueles com 65 anos de idade. Não posso me
candidatar a uma vaga no referido projeto e nem receber o passe livre do
transporte urbano!
Inconformado
com esta situação fui buscar auxílio no dicionário e verifiquei, a contragosto
que, idoso é um indivíduo com muita idade, um velho! Esta descoberta não me
trouxe nenhum alívio, muito pelo contrário, piorou muito o meu estado de ânimo.
Resolvi então
apelar para o Estatuto do Idoso que determina no artigo 10º, inciso IV: é de
responsabilidade do Estado e da sociedade assegurar à pessoa idosa a prática de
esportes e de diversões. De posse desta legislação, fui até o endereço
indicado, onde uma simpática secretária explicou que se tratava de um projeto
de pesquisa envolvendo este grupo etário. Portanto, sem nenhuma infração ao já
citado estatuto do idoso.
Retornei
para casa muito abatido, com o moral baixo. De repente tive uma idéia
brilhante, quem sabe a instituição não criaria um programa de treinamento
físico para atender esta faixa etária intermediária.
Amanhã mesmo
retorno ao Departamento sugerindo esta nova proposta. Já tenho até o nome na
ponta da língua: Programa de Atividade Física para Idosos Juniores, isto é, um
treinamento reservado para os adolescentes da terceira idade, abrangendo os
colegas com 60 a 64 anos, 11 meses e 29 dias de vida!
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