26/11/2019

A IDADE PESA



Por: Evandro Guimarães de Sousa

Há alguns dias, logo após uma reunião científica, eu conversava com uma aluna do curso de pós-graduação sobre seu projeto de pesquisa. O bate-papo estava muito interessante, pois esta aluna é muito inteligente, dedicada, educada e, além do mais, linda e charmosa. Depois de algum tempo que conversávamos, apareceu um jovem vestindo uma jaqueta com o emblema da Universidade e usando um crachá da mesma instituição. Aproximou-se, não disse patavina e entregou-me um impresso. Curioso, abri o papel dobrado e surpreso verifiquei que se tratava de um convite para participação em um programa de atividade física para idosos promovido por esta Universidade. 
Confesso que fiquei desconcertado na presença da aluna, que ao tomar conhecimento do que se tratava, tentou manter o ritmo da conversa, porém com aquela expressão de quem está louca para cair na risada! Pedi licença, informando que tinha outro compromisso e tratei de safar-me rapidinho daquela situação.
Mais adiante pensei com meus botões. Será que ele me entregou o papel porque tenho ainda alguns cabelos brancos ou foi só para acabar com o meu entusiasmo por estar conversando com a pós-graduanda?
Resolvi ler tudo o que estava escrito. Tratava-se de um programa de treinamento físico para avaliar o efeito do exercício relacionado com o sono, a memória e a capacidade funcional. Muito interessante, pois eu tenho mais de 60 anos e, de acordo com o Estatuto do Idoso, poderia ser beneficiado pelo projeto. Além do mais, não haveria nenhum custo aos participantes. Excelente! Eu já estava entusiasmado, pois não posso acrescentar nenhuma despesa adicional aos meus gastos mensais.
Outro requisito para ser selecionado, era o de não praticar exercícios físicos regularmente. Exatamente o meu caso, considerando que muito raramente pratico uma caminhada!
O voluntário não poderia ser portador de nenhuma doença crônica. Vou me matricular, já que só tenho um discreto problema com algumas juntas que insistem em permanecer endurecidas durante o período da manhã. No entanto, a minha pressão arterial está perfeitamente controlada.
Outro item: o candidato devia ser do sexo masculino. A vaga é minha, exclamei feliz da vida! Entretanto, fui fulminado pela última exigência, pois o indivíduo deveria ter idade igual ou superior a 65 anos.
Que decepção! Eu integro aquele grupo etário que é considerado como idoso, porém não posso receber as benesses daqueles com 65 anos de idade. Não posso me candidatar a uma vaga no referido projeto e nem receber o passe livre do transporte urbano!
Inconformado com esta situação fui buscar auxílio no dicionário e verifiquei, a contragosto que, idoso é um indivíduo com muita idade, um velho! Esta descoberta não me trouxe nenhum alívio, muito pelo contrário, piorou muito o meu estado de ânimo.
Resolvi então apelar para o Estatuto do Idoso que determina no artigo 10º, inciso IV: é de responsabilidade do Estado e da sociedade assegurar à pessoa idosa a prática de esportes e de diversões. De posse desta legislação, fui até o endereço indicado, onde uma simpática secretária explicou que se tratava de um projeto de pesquisa envolvendo este grupo etário. Portanto, sem nenhuma infração ao já citado estatuto do idoso.
Retornei para casa muito abatido, com o moral baixo. De repente tive uma idéia brilhante, quem sabe a instituição não criaria um programa de treinamento físico para atender esta faixa etária intermediária.
Amanhã mesmo retorno ao Departamento sugerindo esta nova proposta. Já tenho até o nome na ponta da língua: Programa de Atividade Física para Idosos Juniores, isto é, um treinamento reservado para os adolescentes da terceira idade, abrangendo os colegas com 60 a 64 anos, 11 meses e 29 dias de vida!

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