Por: Maria Gertrudes Vagliengo Focássio
Espontaneamente penetra em meus
sonhos, com certa frequência, o Heliópolis, Hospital onde iniciei a minha
carreira como médica. Mas. O edifício é outro bem diferente, dentro do qual me perco,
tomo o elevador errado, sigo pelo corredor oposto ao que me levaria à saída
mais propícia.
Caso me abordem, desconheço a
orientação espacial para conseguir informar; se os residentes me solicitam
discutir um caso, olho para o paciente, trêmula, em intensa sudorese, gaguejo
sem lembrar-se de nada a respeito daquele doente da minha enfermaria.
Consigo finalmente repelir esse
sonho que me deixa extenuada e, imediatamente, uma porta imensa se abre,
empurrada por uma bruxa enorme, pavorosa. Que me persegue. Em seu bolso está um
mega crachá escrito: “Receita Federal”.
Corro apavorada, porém ela lança uma
rede e me aprisiona, dizendo com sua voz medonha: “Você está literalmente na
malha fina. Vai ser multada”.
Quero assumir que vou pagar, porém
minha voz é inaudível…
Preciso empurrar esse pesadelo para
longe, todavia estou presa na malha fina e não consigo fazê-lo, nem fugir.
Outro pesadelo entra voando pela
janela, na forma de um terrível gavião das montanhas e me livra daquela rede
com seu bico dilacerador.
Porém não consigo me recuperar do
susto do sonho anterior, ao ler o enorme crachá frouxamente pendurado ao
pescoço do gavião mal encarado: “CET”. Mas ele se apresenta pomposamente:
DETRAN para os íntimos, como você.
— Eu já estava de saída, balbucio,
ofegante.
— Não! Não pode me evitar! Veja
quantas multas! Noventa pontos na carteira. Vão perder a CNH.
E minha cabeça fervendo queria
oferecer propina, contudo o medo é tanto que me retiro do sonho, trôpega cruzo
a praça e estanco antes de atravessar outra rua. Um carro forte freia
ruidosamente diante de mim e dele saltam dívidas que me rodeiam e se aproximam
ameaçadoras.
— OK, Vou parcelar no cartão.
Saio correndo com a tocha olímpica e
botas de sete léguas, adentro o mar, vou nadando com os golfinhos, voando com
as gaivotas, até colidir com um foguete identificado com a inscrição “NASA”.
Por favor, implorei, leve-me até um sonho mais
“light, cor de rosa e musicado”.
O foguete me deixa diante de uma
vala cheia de dragões apavorantes, porém do outro lado, acenando-me, vislumbro
meu príncipe encantado, cavalgando seu corcel branco, mas não pode me alcançar.
Súbito ele grita: — Pégaso!
Imediatamente surge o cavalo alado,
meu herói pula-lhe na sela e ambos voam sobre a vala, chegando incólumes.
Quando meu amado segura minhas mãos
e me beija, aparece diante de nós um flamboyant ornado com flores douradas
luminescentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradecemos sua atenção. Se possível deixe informações para fazermos contato.