28/11/2019

PESADELO


Por: Maria Gertrudes Vagliengo Focássio 

Espontaneamente penetra em meus sonhos, com certa frequência, o Heliópolis, Hospital onde iniciei a minha carreira como médica. Mas. O edifício é outro bem diferente, dentro do qual me perco, tomo o elevador errado, sigo pelo corredor oposto ao que me levaria à saída mais propícia.

Caso me abordem, desconheço a orientação espacial para conseguir informar; se os residentes me solicitam discutir um caso, olho para o paciente, trêmula, em intensa sudorese, gaguejo sem lembrar-se de nada a respeito daquele doente da minha enfermaria.

Consigo finalmente repelir esse sonho que me deixa extenuada e, imediatamente, uma porta imensa se abre, empurrada por uma bruxa enorme, pavorosa. Que me persegue. Em seu bolso está um mega crachá escrito: “Receita Federal”.

Corro apavorada, porém ela lança uma rede e me aprisiona, dizendo com sua voz medonha: “Você está literalmente na malha fina. Vai ser multada”.
            
Quero assumir que vou pagar, porém minha voz é inaudível…

Preciso empurrar esse pesadelo para longe, todavia estou presa na malha fina e não consigo fazê-lo, nem fugir.
            
Outro pesadelo entra voando pela janela, na forma de um terrível gavião das montanhas e me livra daquela rede com seu bico dilacerador.
            
Porém não consigo me recuperar do susto do sonho anterior, ao ler o enorme crachá frouxamente pendurado ao pescoço do gavião mal encarado: “CET”. Mas ele se apresenta pomposamente: DETRAN para os íntimos, como você.
            
— Eu já estava de saída, balbucio, ofegante.
            
— Não! Não pode me evitar! Veja quantas multas! Noventa pontos na carteira. Vão perder a CNH.
            
E minha cabeça fervendo queria oferecer propina, contudo o medo é tanto que me retiro do sonho, trôpega cruzo a praça e estanco antes de atravessar outra rua. Um carro forte freia ruidosamente diante de mim e dele saltam dívidas que me rodeiam e se aproximam ameaçadoras.
            
— OK, Vou parcelar no cartão.
            
Saio correndo com a tocha olímpica e botas de sete léguas, adentro o mar, vou nadando com os golfinhos, voando com as gaivotas, até colidir com um foguete identificado com a inscrição “NASA”.
             
Por favor, implorei, leve-me até um sonho mais “light, cor de rosa e musicado”.
            
O foguete me deixa diante de uma vala cheia de dragões apavorantes, porém do outro lado, acenando-me, vislumbro meu príncipe encantado, cavalgando seu corcel branco, mas não pode me alcançar.
            
Súbito ele grita: — Pégaso!
            
Imediatamente surge o cavalo alado, meu herói pula-lhe na sela e ambos voam sobre a vala, chegando incólumes.
            
Quando meu amado segura minhas mãos e me beija, aparece diante de nós um flamboyant ornado com flores douradas luminescentes.

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