Por: Delfim
Silva Pires
A
história que vou contar provavelmente não é novidade e acredito que muitos de
vocês já a conheçam.
E não tem
importância o fato de ser uma história já conhecida, sua importância, para mim,
decorre da maneira como a conheci.
Uma vez, há
muito tempo atrás, no tempo em que eu era ainda criança, estávamos todos à
mesa: meu pai, minha mãe e os filhos. Éramos seis filhos naquela época.
Minha mãe
disse-nos: “Vou contar-lhes uma história”.
Éramos doidos
por histórias, vivíamos pedindo que nos contasse histórias, rogávamos pelas
suas histórias. Como éramos muitos filhos e todos pediam histórias, muito
frequentemente ela nos contava histórias repetidas, então contávamos o final da
história rapidamente, e dizíamos:
— Tá vendo? Essa história já é velha,
história repetida não vale.
Então imaginem
vocês nossa curiosidade.
Imaginem. Nós
nem havíamos pedido e ela se ofereceu para contar história, essa devia se mesmo
das boas e novinha; não devíamos conhecê-la.
Ficamos todos
em silêncio, para ouvir sua história. E ela começou assim:
“Havia uma
família muito pobre e muito unida.
Certa vez, a
mãe dessa família tendo um único pêssego, deu-o a filha caçula e disse:
Coma, só tenho
esse, está bem maduro, e vai te fazer bem.
A menina
guardou-o e, ao avistar o pai, deu-lhe o pêssego dizendo:
Pai, você deve
estar cansado e eu guardei este pêssego para você.
Por sua vez o
pai deu o pêssego para o filho, e o filho deu-o à mãe.
Então a mãe
reuniu toda a família e disse:
— Hoje à
tarde, dei um pêssego à Maria, ela guardou-o e deu ao pai, o pai deu-o ao
Antônio, e o Antônio deu a mim. Portanto esse pêssego alimentou a todos,
deu-nos muito amor, nós bem o merecemos. Assim sendo, repartiu entre todos”.
Estávamos
todos embevecidos com a história e, ao mesmo tempo em que terminava a história,
ela tirou uma pequena travessa do fogão, colocou-a sobre a mesa dizendo:
— Ganhei hoje
este doce da vizinha, sei que ele é bem pouco para todos nós, mas é o que temos
e, se vocês se lembrarem da história, perceberão que dá para todos e ainda há
de sobrar para o resto de vossas vidas.
Passados
tantos anos, ainda me lembro da travessa de doce, e ele me fez tão bem, que
ainda hoje guardo seu gosto. Não podendo repartir o doce com vocês, reparto a
história que tanto me emocionou.
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