22/03/2011

A MORTE POR ESQUARTEJAMENTO

ESQUARTEJAR - dividir em partes – despedaçar. Puxar com força em direções opostas estourar a cabeça, o corpo e os membros.
LOCAL – Área de serviço do 17º andar. Elevador de serviço, porta de madeira que se abre por fora e fecha, porta metálica corrediça que se fecha quando acionado pelo botão o elevador se movimenta.
ANIMAL – Cão yorkshire de dois anos de idade, cor cinza claro e dourado de pêlos brilhantes, amestrado, o xodó da família. O cão tem por costume passear em dois horários sete e 16 horas. Para o referido passeio é colocada uma guia que abraça o cão pelo peitoral. É de couro resistente grossa, tem um comprimento de 1 metro e treze centímetros e uma alça que é segura pela mão do dono para passear com o animal.
Dezesseis horas, o cão está impaciente, de tanque cheio, numa felicidade enorme na colocação da guia, sabe de seu passeio da tarde. A porta do apartamento para a área de serviço é aberta, ele com pressa sai arrastando a guia pelo corredor. A porta é fechada do apartamento, o homem caminha em direção ao elevador aciona o botão para a chegada do mesmo. No horário quase sempre no prédio é o período de descida dos sacos de lixo e há demora. O cão passeia daqui pra lá no corredor. O homem está impaciente, há demora. O elevador chega à porta de madeira é aberta, acionando a metálica que se abre, o homem entra e aperta o térreo. O cão que estava na área entra no elevador, no descuido do dono em não olhar. A guia ficando do lado da área de serviço, a porta de madeira se fecha, a metálica acompanha, o cão fica preso pela guia nas portas. O elevador se movimenta na descida. O terror... O terror... O terror... O homem vê o cão preso, tenta abrir o fecho da guia, não consegue. O cão está sendo puxado para o teto, pois o elevador está descendo. Tenta no desespero arrebentar a guia, o couro resiste. O cão uiva. O couro, esticando, arranca as patas dianteiras. A cabeça e o couro do animal estilhaçam. Sangue esguicha pelas paredes. Geme, late, a veia do pescoço arrebenta. O cão está sendo estraçalhado. Dos olhos do homem e do animal jorram lágrimas, dores do amigo, dor da morte... dor. Gritos, uivos. O sangue inunda o ambiente. O homem abraça a cabeça do amigo estraçalhada, que num último suspiro lambe a face do homem.Gritos ecoam nos andares e o elevador vai descendo.
TÉRREO - Quatro pessoas estão à espera, as portas são abertas, o terror em todas as faces, o homem ajoelhado chora copiosamente. Pânico, terror, dores. Pedaços de tecidos, ossos, couro em todas as partes. Poças de sangue, o vermelho... No sofá da sala, o homem passa a mão na cabeça do yorkshire que olhando olhos nos olhos, vê as lágrimas que deslizam na face do homem, do não acontecido.

Hélio José Déstro

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