Gelsino era tão sortudo que dava até raiva. Se via batida de carro
na rua, anotava as placas e jogava no bicho. Era batata! Sonhava com as
situações mais estranhas, interpretava e jogava. Não dava outra! Certa
noite, sonhou que estava numa casa de café: Me dá um café expresso,
por favor! / Pois não. / Quanto é o cafezinho? / Um real. / E o açúcar? /
O açúcar? O açúcar é gratuito! / Bem, então suspenda o café e me dê
um quilo de açúcar!
Gelsino acordou, decodificou e jogou no macaco. Adivinhem? O
segundo prêmio pela esperteza! Noutra ocasião ficou sabendo que o Sr.
Joaquim havia levado o carro para abastecer no Posto de Gasolina, vestindo
um roupão e segurando uma toalha e um sabonete. Por que será? Ora,
porque havia uma promoção: “Complete o tanque e ganhe uma ducha”.
Gelsino pegou o quinto prêmio jogando no porco. Não me perguntem o
por quê.
Outra vez, Gelsino havia sonhado com um tio falecido há muitos
anos. Jogou no elefante. Lá foi Gelsino buscar seu prêmio, pois dizem que
quando se sonha com defunto deve se jogar no elefante. Não se sabe ao
certo qual a lógica dessa assertiva ou se o tio de Gelsino era muito gordo,
mas deu certo com o nosso personagem.
Sonhava com leite, jogava na vaca. Via gente muito enfeitada na
rua, jogava no pavão. E assim por diante. Gelsino nutria dentro de si uma
esperança. Um dia ainda haveria de ganhar um grande prêmio. Por isso
guardava todos os pequenos prêmios que ganhava para apostar tudo de
uma só vez e tirar o pé da lama.
O tempo foi passando e o sortudo faturando. Num fim de tarde,
chegando do trabalho, Gelsino ao entrar em sua casa, tomou um baita
susto: a ferradura que ficava de enfeite sobre o batente da porta, caiu
bem em cima da sua cabeça. Meu Deus! Que perigo! Bem... nem tanto.
Poderia ser um sinal! Gelsino foi olhar o calendário e.... pasmem, era 13
de agosto, sexta-feira de um ano bissexto. Grandes presságios!
Já tarde da noite e com um baita “galo” na cabeça, o sortudo foi
dormir pensando no que havia acontecido. Conjecturando no que poderia
acontecer no sábado, pegou no sono. Começou a sonhar. Estava num
caminho que a certa altura se dividia em dois, e bem no meio havia uma
placa com os seguintes dizeres: “Os dois caminhos levam ao mesmo
lugar e aquele que procura o que não perdeu, quando acha não
sabe o que é.” Profundo, não é?
O caminho que ficava à esquerda era bonito, florido, iluminado,
cheio de pássaros , coelhinhos saltitantes e borboletas coloridas. Ao
contrário, o caminho do lado direito era feio, escuro, mata fechada, cheio
de cobras venenosas. Gelsino, em seu sonho, olhou à esquerda, olhou à
direita, e, sem hesitar, foi em direção do caminho das cobras, sendo logo
atacado por elas.
Gelsino acordou subitamente, suando, com o coração disparado.
Mas que mensagem! Que palpite! O nosso personagem mal esperou
amanhecer o dia para jogar. Apostou todas as suas economias e tudo o
que havia ganhado nos sorteios anteriores. Não havia dúvida: cobra na
cabeça!
Lamentavelmente, caro leitor, não tenho boas notícias sobre
Gelsino. Dizem que a pressa e a precipitação são inimigas da perfeição, e
depois de tantos anos ganhando, Gelsino foi muito afoito em sua
interpretação. Naquele sábado foi pago o maior prêmio de todos os tempos!
Deu burro em primeiro! Somente um burro escolheria o caminho das
cobras! Teria sido efeito da batida da ferradura da sorte em sua cabeça?
Roberto Caetano Miraglia
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