24/03/2011

O QUASE LINCHAMENTO DO DELEGADO

O costume de fazer a lei pela força permaneceu por muitos anos
em nossa cidade (Mogi-Guaçu). Teve origem, provavelmente, na época
em que os bandeirantes por aqui paravam para descanso ou abastecimento.
As famílias constituíam clãs em que o “apoio” a todos do grupo era
irrestrito, independentemente de os valores estarem certos ou não.
Os delegados em geral eram forasteiros, ficavam pouco tempo por
aqui e tinham um poder de decisão inimaginável. Com grande autonomia,
prendiam, puniam, soltavam. Pois bem! Um desses delegados, recémchegado
(início dos anos 50 do século XX), que morava com sua esposa
muito próximo da loja de meu avô, ordenou a prisão de um senhor de mais
ou menos setenta anos, por motivo aparentemente fútil. Na delegacia,
puniu o cidadão com agressões físicas, comuns na época (costume que
teve seu auge anos depois com a mudança do regime).
A família e concidadãos resolveram vingar-se do delegado.
Aguardaram sua saída da cadeia no final da tarde e, como um enxame de
abelhas, caíram sobre ele, que tentava escapar, gritando e correndo de
forma desordenada. Os poucos policiais nada puderam fazer, ficando
também imobilizados.
Graças ao bom senso de alguns cidadãos, que impediram que o
massacre fosse concluído, o pobre delegado conseguiu sair com vida. Daí
em diante, a força policial ganhou mais elementos, e os futuros homens
da lei foram instruídos a lidar com mais discernimento com os habitantes.
Da loja do meu avô, que cerrou as portas e gritava para que poupassem a
vida do delegado, assisti apavorado a esse triste episódio.

Antônio Carlos Lima Pompeo

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