Esta eu escrevo a pedidos: pedido de pai, que sempre vê qualquer
produção do filho como quase uma obra-prima. Vamos lá! Especial para
50% da minha carga genética. Xiii! Agora lembrei da piada do argentino
que diz que quer ser igual ao pai para “ ter um hijo como jo”. Quando duas
culturas encontram-se, é inevitável a comparação.
A minha banheira tinha um vazamento e por isso escrevi um email
para o zelador, contando o problema. Sem aviso prévio, minha
campainha toca no meio de um dia de semana e eu, que por coincidência
encontrava-me presente por ocasião da instalação da Internet, atendo
sem saber bem do que se trata. Eram dois homens de meia idade que
queriam saber do vazamento para então solicitarem o conserto. Logo
percebem que meu Alemão é ainda um tanto capenga, desculpam-se por
não falarem inglês, mas o recado é passado. A questão fica para quando
agendar o conserto e, para isso, eles ficam de entrar em contato por
telefone. Telefone pra mim aqui é ainda uma questão complicada da qual
procuro esquivar-me quando possível. Não era possível, então reforço
“Por favor, Alemão devagar ao telefone”.
Cerca de dois dias após, estou no metrô e toca o celular,: número
desconhecido. Atendo já em estado de alerta quando ouço uma voz em
Alemão:
- Gos-ta-ria, por fa-vor, com -frau Ca-mar-go falar - (assim é
a estrutura da frase traduzida literalmente). A-qui é o en-ca-na-dor, a
res-pei-to de um va-za-men-to.
-Sim, sou eu.
-Se-ria pos-sível pa-ra est-a quin-ta-fei-ra um con-ser-to agendar-
mos?
Foi uma das conversas mais bem articuladas que tive aqui. Digo
isso por parte do encanador, pois da minha parte as respostas eram as
mais curtas e simples possíveis.
Às vezes, eu complementava:
- “Noch Einmal, bitte!” (mais uma vez, por favor)
- Sa-be, se-nho-ra, se pa-ra o vi-zi-nho de bai-xo nes-te horá-
rio pos-sí-vel? Ainda mais devagar.
Agradeci a atenção. Não tenho do que me queixar do pessoal aqui
em geral.
Quando terminamos a conversa, comecei a rir da situação,
acompanhada por meio vagão do metrô.
O encanador apareceu no dia marcado, apresentou-se como aquele
que tinha falado comigo ao telefone e logo perguntou se eu falava inglês.
O inglês dele era perfeito e tudo deu certo.
No laboratório fui contar a um colega o momento que tivera no
metrô, com o encanador falando bem pausado, como tinha sido divertido
e como estava agradecida pela atitude. Ele sempre muito educado, ajuntou:
- Naturalmente fariam os brasileiros o mesmo por mim, se eu lá
estivesse.
- Não, respondi. - Acho que talvez a maioria gritasse com você,
tentando facilitar a compreensão.
Lucila Lopes de Oliveira
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