Tenho um dia duro de trabalho. Repenso no choro insistente da criança durante várias tentativas de punção venosa. Relembro os olhos angustiados da mãe, quase se rendendo à desistência do tratamento, pensando exclusivamente no cessar da dor do filho.
Chego em casa exausta, mente cheia, coração apertado e paciência em seu limiar mais baixo. Sonho em chegar logo em casa, tomar meu banho e relaxar.
Abro a porta e então sou atropelada por dois olhos ávidos por carinho. Retribuo sem muito entusiasmo, tento um afago rápido e poucas palavras balbuciadas sem muito sentimento. Mas ele não desiste, procura me seduzir, agradar e se fazer notar em cada gesto seu. Estou impaciente. Tudo o que quero é meu banho e sossego. Não quero magoá-lo. Deus, será que ele não percebe?
Impassível, insiste nas investidas e procura me alegrar. Esforça-se, não desiste, cutuca e tenta mais outro gesto para me provocar. Recuso. Olho firme e com tom um tanto ríspido, imploro sossego. Nada! Age rápido, não diz palavra e procura antecipar minhas passadas firmes em direção ao quarto. Acompanha-me animado, matreiro, cheio de segundas intenções. Olho firme, declarando minha intenção de ficar só. Paz, ouviu? Não, ele não ouve! Continua insistindo, parece uma criança fazendo peripécias para me alegrar.
De repente, um derradeiro gesto: lança-se aos meus pés, interrompe minha passagem e pede apenas um simples carinho. Paro, encaro todo aquele amor e, enfim, me entrego.
Como passe de mágica, tudo que me preocupa e me angustia desaparece instantaneamente. Concentro-me, rendida, nos dois lindos olhos castanhos que me fitam em um misto de alegria, carinho e respeito. Meu coração se derrete finalmente em afagos na linda pelugem negra. “Adoro você, meu companheiro inseparável, meu amigo, minha alegria. Adoro você, meu cão Bambino!”
Arlete Mazzini Miranda Giovani
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