01/06/2012

UM TEMPO DE GLÓRIA E CORES

   (EU E A BOLA)
Em meio há muita festa, alegria e pessoas de muita importância era eu a estrela que brilhava e era aplaudida a cada instante, vestida de cores até meio extravagantes era apalpada e apertada por inúmeras mãos que ao serem trocadas elogiavam minha firmeza, a leveza de meu material, o brilho de minhas cores e acima de tudo a regularidade de minhas formas.
Eu era sem nenhuma dúvida a rainha da festa, e sem a minha presença, nada poderia acontecer!
Finalmente, depois de ter passada de mão em mão fui colocada em ponto de honra e cercada por um bando de lindos, joviais e muito fortes rapazes, vestindo também roupas extravagantes e coloridas de um e outro lado meu, curioso e porque até não estranho cada grupo trazia cores diferentes e não se olhavam de maneira nada amistosa.
Depois de tanto afago, e agora ali sozinha comecei sentir-me incomodada e até mesmo abandonada, já pensava em protestar, quando três enormes homens vestidos discretamente de preto se aproximaram e sem muita conversa tiraram-me do meu aconchego e mais uma vez até gulosamente me apertaram, com muita força e nenhum cuidado, cada um deles, sem nenhuma delicadeza e finalmente me recolocaram naquele ponto solitário e me cutucaram delicadamente com o pé.
Trocaram algumas palavras com os simpáticos jovens que acho não gostaram muito, pois alguns se afastaram e os outros se aproximaram de mim, pela cara deles fiquei amedrontada, mas não tive tempo nem de ter medo, pois o homem de preto deu um forte apito e ato contínuo o meninão me deu um forte e dolorido pontapé jogando-me á distância.
Quis protestar, mas não tive tempo e aquele bando de trogloditas me perseguia e sem nenhuma consideração chutava, gritava impropérios, e não me dava nenhuma trégua ou chance de escapar.
Em um momento fui pega carinhosamente por mão delicada, mas logo passada para outra mão mais grossa e áspera que, quando pensei pedir socorro me jogou longe e logo tomei outro desagradável pontapé, este eu senti foi com o bico do pé, doeu!
O homem de preto corria o tempo todo bem perto de mim e até em alguns momentos pensei que fosse me proteger, eis que ouço um novo apito longo e aquele homenzarrão que me judiou tanto vem e carinhosamente me pega no colo, quis esbravejar, mas não me deu atenção.
Depois de algum tempo eis que novamente começaram me apalpar e tiveram o descaro de me chamar de boa, gotosa, bem feita e até macia.
Percebi que meu dia ainda não tinha terminado, pois me recolocaram naquele mesmo fatídico lugar, não demorou nada e logo tomei outro pontapé e assim foi os dois bandos de delinquentes, acho sentiam prazer em me chutar e assim o fizeram até cansar e finalmente parar aquela selvageria. Aquele falso amigo de preto mais uma vez, penso condoído do meu sofrimento, e das agressões sofridas, pegou-me no colo e levou para longe daqueles selvagens.
Achei que depois de toda aquela selvageria voltaria para a festa, mas em verdade fui é esquecida em um canto escuro, pois minhas cores já não brilhavam, pelo contrario estavam desgastadas, minha pele enrugada, manchas já me faziam feia, aquela textura rija e macia eu já não as tinha.
Meus tempos de gloria, fausto, festas e homenagens tinham passado e agora os que me chutavam já não tinham o mesmo viço, a mesma imponência, a grama que outrora de certa forma me protegia já não existia e eu rolava pela áspera terra ou pela areia úmida de alguma praia, mas ainda assim continuava sendo chutada sem nenhuma piedade e o tempo todo, até que um dia já sem força e em lamentável estado, não servindo mais para ser chutada nem mesmo por aqueles desclassificados pés descalços, me vi abandonada e sozinha em um canto qualquer, ou rolando no quebrar de ondas sem nenhum rumo ou esperança de ser reencontrada, reconhecida, recolhida e guardada como troféu de recordação de tempos felizes, e de gloria!

Sergio Pelegrini Marun   

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