28/01/2015

AO POETA JAMAIS ESQUECIDO


Para o Dr. José Rodrigues Louzã
Falecido em 27 de janeiro de 2015
Com certeza, a Sobrames é para mim uma grande família. Apesar de só ter me filiado oficialmente em 2010, muito antes eu já colaborava com a Revista Médico-Literária Sobrames Nacional. Nela eu li artigos de alguns sobramistas que só viria a conhecer pessoalmente na Jornada Paulista em 2009. Talvez devido a esse contato literário anterior, logo de início eu me senti “em casa” e a simpática acolhida revelou que o carinho foi imediato e recíproco.

Pois bem... No final do ano, ao organizar uma pasta, eu me deparei com uma daquelas Revistas e me detive na contracapa com algumas fotos da Jornada em Botucatu 2001. Entre outros, reconheci Galvão (com terno e gravata azuis), Hélio (sempre elegante, mas sem a companhia da Aida) e Alcione (um pouco mais magro).

Uma foto, porém, me impressionou. Na legenda, o nome Dr. José Louzã e esposa. Ora, aquela foto me chamou a atenção por dois motivos. Primeiro, porque a mulher simpática que foi apenas denominada “esposa” era simplesmente a nossa querida Maria do Céu, sobramista atuante e secretária dedicada. Em segundo lugar, e o mais impactante, foi ver o Dr. Louzã de pé.

Sinceramente fiquei admirada.

Quando conheci o Dr. Louzã, ele já era cadeirante e ao vê-lo naquela foto tive uma estranha sensação, idêntica de quando a gente constata que nossos avós nem sempre tiveram cabelos brancos e que nossos pais já foram jovens algum dia. Mas ele estava lá, com postura ereta, um meio sorriso e uma inegável simpatia.

A verdade é que eu quase não conversava com o Dr. Louzã, inclusive pelo fato de eu também ser quieta. Mas toda vez que chegava na pizzaria e me aproximava, ele logo estendia a mão para me cumprimentar e me sorria com os olhos, com um brilho de quem amava estar ali. Aliás, sua limitação física não o impediu de ser um dos mais assíduos da Pizza Literária. E sua participação na Jornada de Itu foi motivo de orgulho e exemplo para todos nós, sobramistas. Com certeza o convívio só foi interrompido por uma prolongada enfermidade e pela necessidade de frequentes internações hospitalares. Mas o carinho continuava inabalável e as noticias iam e vinham através da Maria do Céu, sua sempre presente e  incansável companheira.

Dr. Louzã faleceu no dia 27 de janeiro de 2015 aos 86 anos de idade, boa parte de sua vida dedicada à prática médica, com uma notável carreira que justifica os comentários elogiosos de antigos clientes que de vez em quando ainda ouço. E tem mais: Quando estive em sua casa, eu me admirei com os inúmeros troféus expostos na sala de estar. Um poeta de extrema sensibilidade em seus sonetos, contos e haicais.

O que mais me entristece é saber que nunca escutarei Dr. Louzã declamar uma de suas poesias. Uma pena. Acho que ouvir um texto do próprio autor é um privilégio para poucos.

           (Vocês já se conscientizaram dessa preciosa oportunidade que usufruímos em cada Pizza Literária?).

Ainda bem que muitos dos escritos do Dr. Louzã estão perpetuados nas Antologias e nos Anais. E, como tudo se moderniza, alguns já foram postados no Blog.

É de sua autoria esse trecho:

“... Busco a penumbra suave do luar
e encontro a chama abrasadora
do sol dos desertos.
Busco a paz dos picos nevados
E encontro o furor das avalanches.
Busco o silêncio das águas tranquilas
e encontro o clamor das cachoeiras espumantes.
Busco em longa peregrinação aquela
Que hei de amar um dia
E não te encontro ao longo de meus passos...”

            Com essa linda poesia eu, que me considero uma contínua buscadora, simplesmente fico sem palavras.

A arte é assim: emociona a alma... comunga sentimentos e ideais... Um dom que vence barreiras, transpõe o tempo e faz com que a gente, sem perceber, se eternize...
COM O CARINHO DE TODOS OS MEMBROS DA SOBRAMES SP
MÁRCIA ETELLI COELHO

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